Com depoimentos de profissionais de diversas áreas, incluindo Christopher Nolan e Christian Bale – respectivamente diretor e protagonista dos últimos filmes do Homem-Morcego, o documentário vasculha cada aspecto psicológico da psiquê de Batman e de seus maiores inimigos. Acho esse tipo de trabalho excelente. É uma oportunidade para o fã entender o personagem de uma perspectiva científica. Fico contente em perceber que a indústria do entretenimento percebeu que o consumidor de hoje busca bem mais que um simples filme, ele deseja entender o que consome. Só a razão é capaz de saciar a sede do saber.
Outro pilar importante da mitologia do Batman é a noção da escolha. Isso é muito central para tudo. A história do Batman mostra as escolhas de bom e mau, vida e morte. E no caso de Bruce Wayne ele foi confrontado com uma grande escolha após uma horrível tragédia: presenciou o assassinato dos pais. Os psicólogos citam a cena do julgamento do assassino como momento crucial de sua psicologia. Bruce Wayne tem uma arma no bolso e tem que decidir se vai usá-la ou não. Esse é o momento de definição do personagem. Muitas das pessoas que passam por traumas conseguem superar e se tornam ativistas sociais de alguma forma. Batman resolveu fazer justiça do jeito dele.
Batman Desmascarado encontrou um paralelo psicológico incomum entre o Homem-Morcego e uma figura histórica da vida real: Theodore Roosevelt, vigésimo sexto presidente dos EUA. O pai de Roosevelt era o maior benfeitor e patrono de Nova York. Ele fundou o Museu de História Natural, foi um dos fundadores da Sociedade de Ajuda à Criança. Era similar à Thomas Wayne que foi o grande filantropo de Gotham City. Como Bruce Wayne, Ted passou por uma grande tragédia familiar, sua mãe e esposa morreram no mesmo dia. Ele pensou em se matar. Nesse instante forjou seu caráter e voltou para se tornar um comissário de polícia insano, andando de bicicleta à noite pela cidade. Ficou conhecido como o "cavaleiro solitário".
Batman tem a iconografia do mal. Nas pinturas medievais sobre demônios, por exemplo, geralmente tem chifres e asas de morcego. Os morcegos em todas as culturas (exceto a chinesa) são símbolos do mal, do lado negro, da morte, do diabo. E isso nos fascina. As pessoas sempre foram fascinadas pelo mal. Os psicólogos acreditam que isso ocorre porque o mal é uma parte inerente de todos nós.
A grande qualidade de Bruce Wayne, segundo Batman Desmascarado, é sua enorme capacidade de autocontrole. Para os especialistas, esse autocontrole seria o super-poder de Batman. No lado oposto, o grande ponto fraco dele é sua capacidade de se apaixonar com facilidade. Pode-se dizer que esse ponto funciona como a kriptonita. Ele não quer amar tão abertamente porque teme perder essa pessoa do mesmo jeito que ocorreu com os pais, dizem os especialistas.
O Pinguim é a burocracia ficando louca. Caso Bruce Wayne deixe suas empresas serem usadas imoralmente, ele poderia se tornar algo parecido com o Pinguim. Harvey Dent, também conhecido como Duas Caras, é um exemplo perfeito do Batman sem máscara. Dent acaba se tornando vítima de um dos seus adversários e fica completamente louco. E isso é muito patológico, na verdade, quase psicótico. Herói se tornando um trágico vilão.
O Charada não pode cometer um crime sem deixar para trás uma pista que o incrimine. O caso clássico de um narcisista. O Espantalho é um dos mais terríveis vilões, um sádico em uma posição de poder que usa o medo para conseguir o quer. A Mulher-Gato representa a luxúria. Ela é uma das poucas pessoas do mundo que representaria um perigo real para o Batman, mesmo sendo uma mulher normal.
Batman é humano. É um dos poucos super-heróis que é só um cara normal, que se dedica a combater o crime, ele poderia ser eu, poderia ser você. Nós não viemos de Kripton, não temos super-poderes. Batman Desmascarado provou cientificamente que o Homem-morcego é totalmente plausível, ele reflete o espectro total da ansiedade emocional, alegria e tristeza que cada um de nós experimenta a vida toda. Ótimo documentário, espero que venham outros.
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