- Mônica Guttmann
- É psicóloga formada pela PUC de São Paulo desde 1985, é arte-educadora, arterapeuta e escritora. Atende, como pscicoterapeuta e arteterapeuta em consultório particular, crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias.
- Somos todos crianças em busca de sermos vistos, aceitos, reconhecidos, validados e amados. E nesta busca tão vital ao nosso crescimento de alma, desde cedo nos deixamos seqüestrar justamente por aqueles que tanto amamos. Essa nossa necessidade nos torna vulneráveis aos desejos, projeções e necessidades dos outros.
Tudo está dentro da gente.
As luzes e a sombras.
Os caminhos e as possibilidades.
Os vazios e as limitações.
Os dragões e as fadas.
As luzes e a sombras.
Os caminhos e as possibilidades.
Os vazios e as limitações.
Os dragões e as fadas.
...A maioria destas crianças chegam à vida adulta com um sentimento enorme de vazio e insatisfação, pois consciente ou inconscientemente se dão conta de que algo fundamental de sua existência se perdeu...
Em busca de nossas crianças
Ao sair em busca de nós lá fora nos perdemos de quem somos. Por querermos recuperar o que perdemos e que identificamos como amor, na maioria das vezes nos abandonamos em troca de migalhas de reconhecimento, afeto, segurança, poder e sucesso. E vamos aprendendo a olhar para fora, a medir nosso valor tendo como referência o olhar do outro, a nos diminuir aumentando o valor daquilo e daqueles que não somos e provavelmente nunca seremos. Em troca do reconhecimento de nossos pais, professores, amigos, chefes e da sociedade nos distanciamos de nossa alma, nossa essência, nossa criança. Desta forma acabamos abandonando nossa realização plena e alegria verdadeira tão sabiamente vividas quando éramos crianças.
Ao recordar o passado somos capazes de lembrar dos primeiros momentos em que começamos a nos sentir frágeis e vulneráveis ao seqüestro e abandono das crianças que fomos, quando sentimos o que chamamos solidão ou medo da solidão. Toda criança vive isso em algum momento. Medo do abandono, castigo, preconceito, estigma, rejeição, violência, agressividade, desconsideração, desrespeito do adulto ou de não ser compreendida. Este é o momento mais propício ao seqüestro ou abandono de si mesma.
Para não serem abandonadas, rejeitadas, abusadas ou violentadas as crianças submetem-se a crenças que foram coladas em suas mentes. E criam projetos e sonhos de vida ilusoriamente formados a partir daquilo que as fizeram acreditar que fariam com que fossem mais amadas, respeitadas, valorizadas e nunca abandonadas. E distanciam-se cada vez mais delas mesmas, inspiradas pelo medo do abandono e da rejeição e tendo como foco a realização daquilo que acreditam ser mais aceito e reconhecido.
A maioria destas crianças chegam à vida adulta com um sentimento enorme de vazio e insatisfação, pois consciente ou inconscientemente se dão conta de que algo fundamental de sua existência se perdeu. Algumas buscam retomar suas crianças onde as deixaram. As outras acabam buscando compensações em distrações e vícios mantendo suas crianças internas eternamente famintas, compulsivas e carentes do essencial: serem vistas e amadas.
Quem não foi visto e amado quando criança acaba abandonando a si mesmo e passa a vida em distrações e ilusórias compensações para esta falta de amor próprio. Para quem foi amado, a vida torna-se um lugar muito mais fácil e receptivo para habitar, construir, criar e amar.
Atendo em meu consultório crianças de cinco a 80 anos de sexo, culturas, profissões e faixas etárias diferentes. Todas em busca de algo essencial perdido pelo caminho.
Algumas se tornaram importantes profissionais, provedoras de famílias, pessoas reconhecidas em suas comunidades, mas trazem a saudade de um pedaço de si mesmas que ficou na infância. Quando ele é resgatado, a alegria se instala novamente e gera mudanças criativas e saudáveis em suas vidas. As que não descobrem seu valor e caminho de realização pessoal e profissional permanecem distanciadas de sua essência criativa, mantendo escondida e desnutrida as crianças dentro delas.
As crianças lá fora e aqui dentro
As crianças pedintes, carentes e viciadas que moram nas ruas de nossas cidades são as mesmas que habitam nossos corpos e almas e que um dia abandonamos em troca de um mundo artificial e abusivo. Assim tratamos nossas crianças, tanto as de fora quanto as de dentro, negando que expressem desejos, percepções e necessidades com nossa arrogância de adultos.
Crianças intoxicadas por inúmeras atividades e deveres, tecnologia, regras e solicitações perdem seu mundo interno. Acabam distantes de sua criatividade e alegria essenciais num movimento simbiótico com um mundo que não lhes pertence, mas que lhes seduz.
A arte e a criação literária como caminho de encontro , transformação e libertação
A arte, como expressão do que o ser humano tem de mais profundo, é talvez uma das mais poderosas e sagradas linguagens. Ecumênica e integradora, transcende povos, culturas, religiões, idade, sexo e tempo.
É também poderosa linguagem para o encontro e a expressão de nossa criança interna, assim como de tantas outras personagens que vivem dentro de nós e que não encontrariam outra maneira saudável e criativa de expressar sua voz no mundo aqui fora.
Sim, são muitas as personagens que vivem dentro de nós, embora nem todas possam se expressar em uma única vida. Mas enquanto algumas são vitais e quando não vivenciadas nos fazem adoecer, outras precisam apenas de um espaço para serem ouvidas e vistas. E a arte funciona como um poderoso portal de passagem para estas personas.
...Pintar, desenhar, modelar, dramatizar, escrever, dançar e colar ajudam a resgatar a essência criativa, amorosa e livre...
_ Hoje em dia tanta gente fala sozinha dentro do carro, ainda que no celular, que duvido que alguém vá desconfiar que minha conversa é com “minha criança interna” sentadinha ao meu lado.
Esta e outras tantas pessoas tiveram a oportunidade de reconhecer sua criança interna pelas várias linguagens da arte, que é reveladora e transformadora tanto para quem cria quanto para quem que aprecia e projeta seus próprios símbolos e imagens.
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