sábado, 24 de dezembro de 2011

Campanha da AnimaNaturalis e a Questão do Vegetarianismo

“Se todos os insetos desaparecessem da Terra, dentro de 50 anos, toda vida na Terra desapareceria. Se todos os humanos desaparecessem da Terra, dentro de 50 anos todas as formas de vida floresceriam.”

(Jonas Salk – 1914/1995 – Médico, Virologista, Epidemiologista)
“Se você sabe que isto é mal e, apesar de tudo, o faz, comete um pecado difícil de redimir.”
(G.i. Gurdjieff)

Mais uma campanha “chocante” em prol dos direitos dos animais, dessa vez uma iniciativa excelente e super criativa da AnimaNaturalis para (tentar) sensibilizar as pessoas para o fato de que animais não dão em árvores… Digo “tentar” sensibilizar, porque atualmente está cada vez mais difícil fazer isso, principalmente entre os jovens, que estão crescendo tão acostumados a filmes e jogos ultra-violentos, além dos noticiários que competem para mostrar o “melhor” ângulo da violência e da tragédia… Mas o importante é manter esse tipo de  iniciativa viva.

Interessante que notícias assim sempre geram comentários do tipo: “Ah, isso é só gente querendo aparecer”; ou “Diga para os leões/tigres/etc comerem capim” ou bobagens do gênero. O que mais me pasma é a completa falta de visão, consciência e sensibilidade de alguém que diz algo assim.

Já de um tempo que pensava em fazer um comentário pessoal sobre a questão do vegetarianismo aqui no InconscienteColetivo, e acho que essa notícia me dá o gancho ideal.

Primeiramente, faz-se necessário compreender que a grande questão do vegetarianismo não se resume apenas a uma opção mais saudável de dieta (é também, mas essa é a menor das preocupações nesse sentido). Toda essa briga pelo direito dos animais, está relacionada ao fato de que os animais se tornaram meros produtos de consumo de uma humanidade que não gosta de pensar que toda ação tem uma consequência, e que se é responsável por ambas; e que o planeta em que vivemos é um grande organismo vivo, cujo equilíbrio é constantemente ameaçado por uma única espécie animal: o homem.

O problema não é “apenas” matar um animal para comer. Os antigos faziam isso, comunidades indígenas, nossos antepassados. Portanto, a questão não está somente no matar para sobreviver, como no caso dos leões por exemplo. A questão é que nós tornamos o ato de matar animais para nossa alimentação num processo industrial. Nós criamos animais como se fossem produtos. Percebe? Leões não criam zebras em cativeiros apertados, sem luz do sol, à base de ração artificial e injeção, separando os filhotes das mães para criá-los como se fossem máquinas produtoras de carne e leite. Leões caçam somente o que necessitam para comer. As zebras vivem livres, têm chance de escapar ou se defender… Dá pra compreender a ESCANDALOSA diferença?

Então. Para sustentar a demanda mundial (que só cresce, afinal a população humana não pára de crescer) é preciso um número absurdo (mais de 50 bilhões de animais) de mortes. Afinal, nós centramos não apenas a nossa alimentação, mas a nossa cultura, no consumo da carne. Carne esta que não gostamos muito de pensar de onde vem nem como chegou até no balcão do supermercado… Muito menos de em que condições tudo aconteceu… como o animal foi criado, como foi abatido. Esses detalhes.

Mas deixe-me falar resumidamente sobre esses detalhes! Porque na realidade não são detalhes, são o pacote que você compra quando vai ao açougue, então é importante.
As vacas são ordenhadas por máquinas em uma estação de ordenha em uma fazenda
O que a maioria das pessoas não pára para analisar é que criar uma vaca, por exemplo, não é um processo rápido. Naturalmente, uma vaca não engorda a metade nem produz a metade do leite no curto espaço de tempo que uma indústria requer para que o processo seja economicamente viável. Então, o que se faz? Injeta-se hormônios e antibióticos nos animais para compensar a “lentidão da natureza”. Só que esse tipo de prática não acontece sem riscos. Há uns anos atrás foi estimado que cerca de 9 milhões de vacas na América do Norte eram doentes. Pelo menos metade dos rebanhos sofria de leucemia e doença de Crohn. Injeta-se hormônios para acelerar as coisas, o animal adoece, injeta-se antibióticos e medicamentos para que este não morra antes de cumprir com sua cota de produção… E as pessoas ingerem, por tabela, TUDO isso.

A indústria da carne cria animais como se fossem máquinas, em espaços confinados, sem grandes preocupações com o tipo de vida que os animais levam. A preocupação é com que a produção seja realizada da forma mais barata e rápida possível, e ocupando também o menor espaço possível (por isso o confinamento em pequenos espaços). E não há como ser de outro modo, já que a demanda por carne é assombrosa. A população sempre quer mais carne!
Então, como funciona o processo? Continuando no exemplo das vacas, cria-se as vacas em espaços pequenos (como mostrado na figura acima), muitas vezes tão pequenos que elas não conseguem nem dar a volta, para que “economizem” energia apenas para produzir leite/carne. Para que cresçam mais rápido, como mencionei antes, são injetados hormônios, alterando o animal geneticamente para tal. O confinamento, o estresse, a constante proximidade com os outros animais – amontoamento, na verdade – acabam causando muitas enfermidades. Aí, entram os antibióticos e pesticidas, que permanecem nos corpos dos animais, e que são alegremente consumidos no churrasco de domingo na casa do tio ou na Ceia de Natal, porque não?

Se não bastasse toda a química e alimentação artificial a que os animais são submetidos, quem come a carne “come” também o estresse, o medo, a ansiedade, e a extenuação dos animais. Uma vaca sabe que vai morrer e sente muito medo antes de ser abatida… E se nós refletirmos que “somos o que comemos”, bem…

Mas as pessoas dizem… “é muito difícil parar de comer carne”, “fui criado(a) tendo a carne como base da minha alimentação”. É realmente complicado mudar uma dieta, e já li que para a maioria das pessoas, mudar a dieta é quase como mudar de religião ou time de futebol – tendo em vista que são coisas que fazem parte da criação familiar. Mas difícil não quer dizer impossível… E normalmente, o que é bom para sua evolução (independente de em qual aspecto da vida) não vem fácil. Então, pode-se dizer que ser difícil é um bom sinal…

Penso que se uma pessoa não consegue nem se sensibilizar com a dor ou o sofrimento de outro ser vivo, com o que mais poderá se sensibilizar??? Dizer que o consumo de carne é “fundamental” não é verdade para a maioria das pessoas. Salvo os casos de doenças específicas e outras exceções (mas que ainda assim não justifica toda essa demanda absurda já comentada), não há nada real que impeça a diminuição ou o abandono da ingestão de carne. É possível substituí-la por alternativas menos sofridas e sangrentas e ter tanta ou mais qualidade de vida que se tinha anteriormente. Você só não vai ver tanta propaganda sobre essas alternativas porque elas são bem menos lucrativas (afinal você mesmo pode plantar verduras ou ervas por exemplo) – tanto na sua produção como nos seus efeitos: se você se alimenta bem, você vive melhor, adoece menos… entende?
Enfim. Fazer a escolha de adotar uma dieta vegetariana, ou que ao menos reduza o consumo da carne ou não seja focada nesta, diz muito sobre que tipo de ser humano se é ou quer se tornar. E aqui prefiro não entrar no mérito do que é mais ou menos espiritual, porque não é bem esse o foco principal. Mas preciso frisar que a partir do momento que uma pessoa se torna verdadeiramente mais sensível ou mais espiritual, os hábitos alimentares seguem a mudança… Ou dizendo melhor: a partir do momento em que uma pessoa começa a se dar conta de que é, na realidade, em essência, um ser sensível, espiritual, não há como ser de outra forma, a dieta irá se modificar naturalmente… E isso não é algo que se convence ou argumenta a alguém para fazer. É uma conscientização individual, um amadurecimento… Mas não deve ser esse – “ser mais espiritual” – o objetivo aqui. O objetivo é evitar, na medida em que se pode fazê-lo, o máximo que puder de causar ou contribuir para o sofrimento de outros seres.

E  a grande questão do vegetarianismo, a meu ver é: quem você é? Que tipo de ser humano você quer ser?


Prato de ‘carne humana’ denuncia crueldade contra animais


Ativista nua em um prato simula ser um pedaço de carne em frente a um mercado em Barcelona
Um prato gigante sobre o qual jaz um corpo nu de uma voluntária, acompanhada de diferentes guarnições e sangue simulado, foi a performance que a AnimaNaturalis realizou nesta quinta-feira em frente a um mercado de Barcelona para sensibilizar os consumidores carnívoros.

Apesar do frio, uma integrante da organização internacional de defesa dos direitos dos animais se ofereceu como voluntária para simular um gigantesco prato de carne humana, no que foi o primeiro ato deste tipo realizado na Espanha e que será seguido por eventos semelhantes em Valência (leste) e em Palma de Mallorca (Baleares).

Um cartaz onde era possível ler “Quanta crueldade você é capaz de engolir?” acompanhava a inovadora performance, “com a qual iniciamos uma campanha para sensibilizar as pessoas para que não comam carne”, explicou à AFP Aída Gastín, diretora da AnimaNaturalis na Espanha.

“Todos os anos fazemos uma campanha de Natal porque se supõe que as pessoas estão mais sensíveis e pensam nos animais”, acrescentou.

A crueldade é apenas uma, não entende de espécies, não discrimina entre animais humanos e animais não humanos. Hoje em dia, o consumo de carne é um costume do qual se pode prescindir perfeitamente“, comenta Alba Mangado, coordenadora de Campanhas da AnimaNaturalis.
Anualmente, a indústria de carne mata mais de 50 bilhões de animais para servir como comida, e grande parte destas mortes ocorrem no Natal, segundo os dados fornecidos pela organização de defesa dos animais.

Fundada em março de 2003, esta organização internacional dedicada a estabelecer, difundir e proteger os direitos de todos os animais conta com uma ampla representação tanto na Espanha quando na maioria dos países da América Latina.

Fonte: AFP
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