sexta-feira, 21 de outubro de 2011

4 e 5 circulos dantesco de sol e de marte

Distintos amigos! Vamos esta noite estudar conscientemente o quarto círculo
dantesco, situado nas infradimensões naturais, debaixo da região
tridimensional de Euclides.
Os que passamos pelos diversos processos esotéricos transcedentais nas
dimensões superiores pudemos verificar, por nós mesmos e de forma direta,
o cru realismo do reino mineral submerso solar.
Inquestionavelmente, nos infernos solares do resplandescente astro que dá
vida a todo este sistema solar de Ors, não vemos os grotescos espetáculos
dantescos dos infernos terrestres.
É óbvio que no reino mineral submerso solar existe a pureza mineral mais
perfeita.
Indubitavelmente, neste radiante astro que é o próprio coração deste grande
sistema no qual vivemos, nos movemos e temos o nosso ser, só moram,
ditosos, os espíritos solares.
Como existem indivíduos sagrados e eternos, não é possível pensar em
fracassos contundentes e definitivos como os de nosso mundo terráqueo.
Resulta, pois, evidente o fato concreto de que não existem moradores
tenebrosos nas infradimensões naturais do mundo solar.
Outro caso muito diferente é o das infradimensões de nosso planeta Terra.
Resultam patéticos, claros e manifestos para todo investigador esoterista os
estados involutivos do quarto círculo, sob a crosta geológica de nossa Terra.
Como o Sol é a fonte de toda vida e o agente maravilhoso que sustenta nossa
existência, de acordo com a lei do eterno
trogo-auto-egocrático-cósmico-comum, obviamente a antítese fatal e
negativa de tudo isto iremos encontrá-la , realmente, no aspecto antitético
solar da quarta zona submersa terrestre.
Nessa tenebrosa região, nesses infernos atômicos da natureza, encontramos
dois tipos específicos de pessoas involucionante; quero referir-me, de forma
enfática, aos esbanjadores e aos avaros.
Duas classes de sujeitos que não se podem reconciliar entre si jamais e que
uma e outra vez se atacam de forma incessante.
Analisando esta questão a fundo, devemos asseverar solenemente que é tão
absurdo o desperdício como a avareza.
Dentro do processo meramente trogo-auto-egocrático-cósmico-comum,
devemos permanecer sempre fiéis à balança. É claro que a violação da lei do
equilíbrio traz conseqüências cármicas dolorosas.
No terreno da vida prática podemos verificar, conscientemente, as
desastrosas conseqüências que decorrem da violação da lei da balança.
O pródigo, o esbanjador, aquele que malgasta seu dinheiro, ainda que no
fundo se sinta muito generoso, é indubitável que está violando a lei.
O avaro, aquele que não faz circular o dinheiro, aquele que egoisticamente o
retém de forma indevida, mais além do normal, ostensivelmente está
prejudicando a coletividade, tirando o pão de muitas pessoas, empobrecendo
os seus semelhantes. Por tal motivo, está violando a lei do equilíbrio, a lei da
balança.
O esbanjador, embora aparentemente aja bem, fazendo circular a moeda de
forma intensiva, é lógico que produz desequilíbrio, não somente em si
mesmo, senão também com o movimento geral de valores. Isto, cedo ou
tarde, ocasiona tremendos prejuízos econômicos aos povos.
Pródigos e avaros se transformam em mendigos e isto está comprovado.
É indispensável, é urgente cooperar com a lei do eterno
trogo-auto-egocrático-cósmico-comum, não entorpecer o equilíbrio
econômico, não se danar a si mesmo, não prejudicar os demais.
Como muitos ignoram o que é a lei do eterno
trogo-auto-egocrático-cósmico-comum, convém esclarecer o seguinte: Esta
grande lei se manifesta como recíproca alimentação de todos os organismos.
Se observamos cuidadosamente as entranhas da Terra, encontraremos o
cobre como centro de gravidade de todos os processos evolutivos e
involutivos da natureza.
Se aplicamos a força meramente positiva ao dito metal, veremos, com a
clarividência objetiva, desenvolvimentos evolutivos extraordinários. Se
aplicamos a força negativa, poderemos evidenciar, de forma direta, impulsos
involutivos descendentes em todos os átomos do dito metal. Se aplicamos a
força neutra, veremos processos de estabilização atômica em tal metal.
Muito interessante é, para os investigadores esoteristas, contemplar as
radiações metálicas do cobre nas entranhas viventes do organismo
planetário.
Assombramo-nos ao ver como as emanações do mencionado metal animam,
por sua vez, a outro metais, ao mesmo tempo que, como recompensa, se
alimenta também com as emanações dos mesmos.
Há, pois, intercâmbio de radiações entre os distintos metais que existem no
interior da Terra. Há recíproca alimentação entre os metais; e o que mais
assombra é o intercâmbio de radiações entre os metais que existem no
interior da Terra e aqueles que subjazem dentro do reino mineral submerso
em outros mundos do sistema solar. Eis aí a lei do eterno
trogo-auto-egocrático-cósmico-comum em plena manifestação. Esta grande
lei permite a convivência entre os mundos. Esta alimentação recíproca entre
os planetas, este intercâmbio de substâncias planetárias vem originando o
equilíbrio dos mundos ao redor de seus centros gravitacionais.
Com outras palavras, diremos o seguinte: Existe recíproca alimentação entre
as plantas, entre os minerais, entre o organismo de toda espécie, etc., etc.,
etc.
Os processos econômicos humanos, as flutuações da moeda, o débito e o
crédito financeiro, o intercâmbio de mercadorias e moedas, a economia
particular de cada qual, o que cada um recebe e gasta, etc., etc., etc.,
pertence também à grande lei do eterno trogo-auto-egocrático
cósmico-comum.
É claro, repetimos, é evidente que, em nosso sistema solar, o radiante astro
que nos ilumina é, de fato, o administrador dessa suprema lei cósmica.
Não seria possível o funcionalismo de tal lei, violando todo o equilíbrio.
Agora podemos explicar claramente o motivo fundamental pelo qual prodígios
e avaros alteram a balança de pagamentos e ocasionam funestas
conseqüências no equilíbrio cósmico humano.
Aqueles que violam a lei de alguma forma devem receber seu merecido. Não
é, pois, estranho encontrar na antítese solar, no quarto círculo dantesco, os
pródigos e os avaros.
P. – Querido Mestre, fez-nos o senhor uma exposição em verdade
transcendental, sobre o quarto círculo dantesco, informando-nos que ali
moram tanto os pródigos como os avaros. Haveria inconveniente em
explicar-nos que tipo de sofrimentos podem padecer os seres que aí
habitam?
V.M. – Amigo meu! Sua pergunta me parece bastante interessante e me
apresso em responder-lhe. como nos mundos submersos só vemos
resultados, convido-o à reflexão. Pergunte-se a si mesmo o que é a
avareza? Em que se parece um avaro a um mendigo? Qual é a vida dos
avaros? Suas enfermidades, seus padecimentos? De que forma morrem?
Vamos a outro extremo. Pensemos, por um instante, na pessoa que esbanjou
toda sua fortuna, em que situação fica? Qual é a sorte de seus filhos, de sua
família em geral? etc., etc., etc.
No Cassino de Montecarlo conheceram-se muitos casos de suicídio.
Jogadores que ficaram na miséria, que perderam seus milhões,
suicidaram-se da noite para o dia. Que diremos agora destes dois tipos de
pessoas? Amigos! Nos mundos infernos só existem resultados e estes são
catastróficos, terríveis, espantosos. No Averno, desesperados, os pródigos e
os avaros blasfemam contra a divindade, maldizem, combatem-se
mutuamente, submergem em espantosa desesperação.
P. – O que não entendo, Mestre, é que, se o quarto círculo dantesco é muito
mais denso e material que o segundo, considerando que os culpados de
luxúria são os maiores pecadores contra o Espírito Santo, não obstante, que
pródigos e avaros cometem tanto dano, não crê o senhor que o castigo maior
deveria ser para os primeiros?
V.M. – Cavalheiro! Senhores, senhoras! Quero repetir agora o que de forma
enfática em uma conferência anterior. O pecado original é a luxúria e este
serve de embasamento para todos os processos involutivos descendentes
dos nove círculos dantescos submersos nas entranhas de nosso mundo. No
entanto, é evidente que, dentro da soma total de todos os processos
descendentes, ressaltam, em cada uma das nove infradimensões naturais,
certos defeitos específicos definidos, intrinsecamente relacionados cada um
com seu correspondente círculo.
É bom saber, amigos, damas e jovens que me escutam, que no quarto círculo
acham-se perfeitamente definidos pródigos e avaros. Isso é tudo!
P. – Mestre, como tanto o esbanjamento como a avareza, no meu modo de
ver, relacionam-se diretamente com a fome dos povos e dos indivíduos e que
a grande lei do eterno trogo-auto-egocrático-cósmico-comum se relaciona
com o equilíbrio, parece-me que isto nos pode levar diretamente ao problema
da alimentação e que seguramente isto também tem a ver com os
sofrimentos que no quarto círculo dantesco padeceremos, se não guardamos
um equilíbrio na balança de nossa nutrição. Poderia o senhor dizer-nos algo
a respeito?
V.M. – Distinto senhor que faz a pergunta! Já em nossa conferência passada,
sobre o terceiro círculo, fizemos ênfase sobre o caso dos glutões.
Indubitavelmente eles, em si mesmos e por si mesmos, violam a lei do eterno
trogo-auto-egocrático-cósmico-comum, levando ao interior de seus
organismos excesso de alimentos e bebidas. É claro que toda violação da lei
da balança ocasiona desequilíbrio e o resultado é a dor.
P. – Mestre, estes seres que ingressam no quarto círculo são somente os que
já esgotaram o ciclo das 108 existências humanas?
V.M. – Respeitável senhora que faz a pergunta! Permita-me informar-lhe, de
forma enfática, categórica e definitiva, que todo aquele que ingressa na
involução submersa dos mundos infernos, incluindo os habitantes do quarto
círculo dantesco, já esgotaram de fato o ciclo das 108 existências.
No entanto, já disse numa conferência anterior que havia casos excepcionais.
Quis, então, referir-me, de forma enfática, aos definitivamente perversos,
àqueles que, por sua demasiada malignidade, tiveram que ingressar na
submersa involução infernal sem haver esgotado ainda seu ciclo de
existências.
P. – Pelo exposto, chego à síntese de que no quarto círculo dantesco solar
habitam todos aqueles que desequilibram a balança da economia mundial ,
ou seja, do ponto de vista puramente econômico. Estou correto, Mestre?
V.M. – Cavalheiro, amigo! Sua pergunta é correta. Certamente não se pode
violar impunemente a lei da balança econômica mundial sem receber seu
merecido. Lei é lei e a violação de toda lei traz dor.
P. – Querido Mestre, quando falava o senhor dos glutões, ao tratar do
desequilíbrio da balança, por analogia pode-se dizer o mesmo dos que
voluntariamente, por ignorância, carecem da nutrição adequada,
especialmente por desconhecimento da lei do eterno
trogo-auto-egocrático-cósmico-comum. Poderíamos, pois, considerar que
os ortodoxos da religião de cozinha, ou seja, os vegetarianos, habitariam o
círculo de que o senhor está tratando nesta conferência?
V.M. – Distinto cavalheiro que faz a pergunta! Permita-me dizer-lhe, com
inteira claridade meridiana, que cada qual é livre para alimentar-se como
queira. Existem vegetarianos insuportáveis que fizeram da comida uma
religião de cozinha e existem também, sobre a face da Terra, carnívoros
sanguinários, quase canibais, que destruíram seu organismo.
De tudo há nesta vida e todos pecam pelo desequilíbrio. Todos violam a lei da
balança e o resultado de toda violação não é muito agradável.
Contudo, não é demais repetir que cada qual é livre para alimentar-se como
queira. Entretanto, não devemos esquecer a lei; se destruímos nossos
corpos, cabe-nos suportar as conseqüências.
Convém especificar que nos Abismos existem também muitos vegetarianos;
no entanto, nenhum deles vive ali pelo delito de ser comedor de vegetais,
senão por outras muitas causas e motivos.
Em questões de alimentação, que cada qual coma o que queira. O
importante, repito, é não infringir a lei. Isso é tudo!
P. – Mestre! Poderia dizer-nos se há algum procedimento, ou sistema, que
nos pudesse ensinar para ter um perfeito equilíbrio na balança?
V.M. – Distinta dama! É bom que a senhora entenda que sua mônada interior,
sua chispa imortal, seu Pai que está em secreto, como dissera o evangelho
crístico, é o eterno regulador do processo
trogo-auto-egocrático-cósmico-comum. Ele tem poder para nos dar e poder
para nos tirar. Se nós atuamos de acordo com a lei, se vivemos em harmonia
com o infinito, se aprendemos a obedecer ao Pai que está em secreto, assim
nos Céus como na Terra, jamais nos faltará o pão de cada dia. Recorde,
senhora, a magnífica oração do Pai Nosso. Medite profundamente nisto.
Escute.
P. – Mestre, como podemos fazer a vontade do Pai se estamos adormecidos?
Se não o podemos ver nem escutar?
V.M. – Senhora, senhores, amigos! A lei está escrita. Recorde o Decálogo de
Moisés. Não infrinjais os mandamentos escritos! Vivei-os! Respeitai-os!
Se cada um dos aqui presentes, se toda pessoa de boa vontade se propõe a
viver de acordo com as leis e os profetas, fará a vontade do Pai, tanto nos
Céus como na Terra.
Um dia chegará em que o devoto do real caminho desperte Consciência.
Então poderá ver o Pai e receber suas ordens diretas e obedecê-las
conscientemente.
Primeiro temos que respeitar a lei escrita e depois conheceremos os
mandamentos do Bendito.
P. – Mestre, que nos pode dizer sobre a materialidade e as leis que governam
o quarto círculo dantesco solar?
V.M. – Respeitável cavalheiro! Amigos ! Ouvi-me bem! O quarto círculo
dantesco está constituído por átomos muitíssimo mais densos que aqueles
que vêm dar forma e estrutura aos três círculos anteriores.
É evidente que cada átomo do quarto círculo tenebroso leva em seu ventre
384 átomos do Absoluto. Este tipo específico de átomos dá à quarta região
submersa um aspecto terrivelmente grosseiro e material, imensamente mais
pesado e doloroso que aquele que se vive e se respira nos três círculos
anteriores.
Sem dúvida, não é de se estranhar o ver ali, naquelas regiões, lojas,
armazéns de todo tipo, mercadorias, carros, coisas de toda espécie, que ao
fim e ao cabo não são mais que simples formas mentais grosseiras,
cristalizadas pelas mentes dos defuntos.
Ainda recordo um caso muito curioso. Uma noite dessas tantas, metido em
meu corpo astral dentro dessa tenebrosa região do Tártaro, ante o mostruário
de um luxuoso armazém (mera forma mental de uma comerciante submerso),
tive que chamar Bael. Aquele terrível mago das trevas, vestido com túnica cor
de sangue e turbante oriental de cor vermelha, veio até mim, sentado num
carro. Atrás, seus sequazes traziam-no, empurrando sua carruagem. O
esquerdo personagem, anjo caído, luzeiro do firmamento em outros tempos,
mirando-me com ódio, lançou-se sobre mim, mordendo-me a mão direita. É
claro que o conjurei e, por fim, aquele fantasma se perdeu entre as trevas da
horrível morada de Plutão.
Ó amigos! Assombramo-nos nessas regiões ao ver tantos e tantos
exploradores de corpos e de almas. Ali, jogadores de loterias e de baralhos;
ali, muitos sacerdotes e jerarcas, místicos que, insaciáveis, cobiçavam os
bens alheios.
Realmente nos enchemos com assombro ao ver tantos prelados e
anacoretas, penitentes e devotos que amaram a humanidade, apesar de sua
avareza.
Vivem, todos esses perdidos da quarta região submersa, crendo ainda que
vão muito bem e o mais grave é que jamais aceitariam o fato concreto de que
vão mal.
P. – Mestre, poderia dizer-nos se neste quarto círculo dantesco não há
Mestres da Loja Branca que instruem os que ali habitam, com o propósito de
que compreendam que vão mal?
V.M. – Hierofantes da Luz, Nirmanakayas de compaixão, Kabires
esplendorosos, Filhos da Chama, existem em todas as partes e muitos deles
renunciaram a toda a felicidade para viver nas profundidades do Abismo, com
o propósito de ajudar aos decidamente perdidos.
Desafortunadamente, os habitantes do Tártaro odeiam os filhos da luz,
qualificam-nos de perversos, chamam-nos com o qualificativo de demônios
branco, maldizem-nos e jamais aceitariam a idéia de que vão mal.
Os decididamente perdidos sempre crêem que marcham pelo caminho do
bem, da verdade e da justiça.
P. – Mestre, poderia dizer-nos se no quarto círculo dantesco há ar, fogo,
água, terra, ou quê?
V.M. – Distinta senhora! As pessoas muito avaras são pessoas que se
materializam demasiado. Convido-a, pois, a compreender que o quarto
círculo é essencialmente metálico ou mineral, extremamente denso.
Obviamente, as criaturas que vivem na água, os peixes, não vêem o
elemento em que vivem. Igualmente, aqueles que moramos no elemento ar
não vemos tal elemento.
Assim, também, aqueles que vivem no elemento mineral poderão ver formas
mentais, figuras de armazéns, cantinas, tabernas, bancos, etc., etc., mas não
verão o elemento em que vivem. Este será para eles tão transparente como o
ar.
Que diremos, agora, do elemento água? Obviamente é mediante este
elemento que se cristaliza o eterno trogo-auto-egocrático-cósmico-comum,
fazendo possível a recíproca alimentação de todas as criaturas. Se a Terra
ficasse sem água, se os mares secassem, se os rios desaparecessem,
morreriam todas as criaturas que habitam sobre a face da Terra. Com isto fica
completamente demonstrado o fato concreto e definitivo de que a água é o
agente mediante o qual se cristaliza a lei do eterno
trogo-auto-egocrático-cósmico-comum.
No quarto círculo dantesco, as águas são negras e o elemento fundamental,
repito, é o mineral.
Acaso não violam a lei os pródigos e os avaros? Acaso não alteram o
equilíbrio da balança econômica dos povos? Acaso não alteram o "modus
operandi" do eterno trogo-auto-egocrático-cósmico-comum? Refleti em tudo
isto, queridos amigos, damas e cavalheiros!
Quinto Círculo Dantesco ou Esfera
Submersa de Marte
Amigos, senhores, senhoras!
Vamos agora conversar um pouco sobre a quinta infradimensão natural, ou
de Marte, sob a crosta geológica de nosso mundo terráqueo.
Antes de tudo convém esclarecer, de forma enfática, que não estamos aqui
citando o reino mineral do planeta Marte em si mesmo.
Estamo-nos referindo exclusivamente a essa seção infradimensional situada
debaixo da epiderme da Terra, relacionada com a vibração de tipo marciano.
Não estou tampouco falando do céu de Marte, nem do citado planeta. O que
estou dizendo refere-se exclusivamente à quinta infradimensão de nosso
planeta Terra e isso é tudo.
Gosto de esclarecer tudo isto com o propósito de evitar más interpretações,
pois a mente, como já é sabido, pode cair em muito sutis enganos.
No quinto círculo dantesco ressaltam, inquestionavelmente, as pessoas
irônicas, furiosas, os soberbos, altaneiros e orgulhosos.
Nos infernos do planeta Marte em si mesmo, como já estudamos em nosso
livro entitulado As Três Montanhas, descobre o investigador esoterista
terríveis conciliábulos de bruxos, zangões espantosos, tenebrosas harpias,
bruxas, feiticeiras ou como queira chamá-los.
Contudo, no quinto círculo dantesco, sob a epiderme da Terra, seção de tipo,
diríamos, marciano, não ressaltam certamente os sequazes de Selene, com
seus asquerosos zangões, que tanto assustaram os troianos nas Ilhas
Estrófadas do Mar Egeu.
Aqui, Dante Alighieri, o velho florentino, discípulo de Virgílio, o poeta de
Mântua, só vê, entre as águas turvas e o imundo lodo, muitos soberbos que
aqui, sobre a face da Terra, brilhavam solenes nos ricos palácios e nas
faustosas mansões.
O mais doloroso desta região abominável é ter que se encontrar os perdidos
com suas próprias diabólicas criações milenárias.
Inquestionavelmente, a Consciência, engarrafada em todos esses agregados
psíquicos que constituem o ego, o mim mesmo, o si mesmo, há de se
enfrentar a si mesma com todos os seus componentes.
Eu vi, naquelas regiões submersas, muito lodo, estancadas águas e suprema
dor.
Ainda recordo com horror certa desesperada criatura que, submersa naquela
lama de amargura, desesperada, tratava de ocultar-se ante o olhar sinistro de
certos monstros horripilantes que, no fundo mesmo de sua própria psique,
eram eus personificando violências, partes de si mesma.
Fugir de si mesmo? O eu fugindo do eu? Espanto! Horror!
A Consciência, ante si mesma, enfrentava o suplício maquiavélico impossível
de descrever com palavras.
Aqueles eus, partes da criaturas vivente que deles queriam fugir, não tinham
os olhos na frente, como os demais mortais; esses, de nefastos, viam-se à
direita e à esquerda, como os dos pássaros.
Eram agregados psíquicos da violência. Portanto simbólicos rifles, queriam
atacar a criatura que se ocultava e, não obstante, esta última e seus
atacantes eram todos agregados psíquicos, partes componentes de um
mesmo ego, o eu pluralizado em sua totalidade. Revolver-se entre tanto lodo,
fugir de si mesmo, sentir pavor de si mesmo, o eu enfrentando o eu, partes de
mim mesmo enfrentadas a partes de mim mesmo, é certamente o horror dos
horrores, o inqualificável, o espanto que não tem palavras para se expressar.
É assim como a Consciência dos defuntos, na quinta infradimensão do
planeta Terra, vem a conhecer suas próprias maldades, seus próprios
horrores, suas insólitas violências, a ira nefasta ...
P. – Querido Mestre, observei que, ao se referir ao quinto círculo dantesco do
planeta Marte, diz-nos que aí há conciliábulos de bruxos e convulsões de ira.
Não obstante, quando se fere ao quarto círculo dantesco solar, informa-nos
que, no que toca ao astro Sol, está limpo de eus, apesar de que Marte
corresponde a um passo adiante no processo de Iniciação. Se entende minha
pergunta, poderia o senhor esclarecê-la?
V.M. – Distinto amigo! Disse que no reino mineral submerso marciano, quer
dizer, nos infernos do planeta Marte, não em seu céu, nem em sua superfície
planetária, pode o investigador esoterista encontrar certamente as tenebrosas
harpias e seus pavorosos conciliábulos. Disse também que no reino mineral
submerso do Sol que nos ilumina e dá vida, dentro de suas infradimensões
meramente naturais, tudo está limpo; ali não vemos as sequazes de Selene,
nem os horripilantes zangões, nem os seguidores de Simão, o Mago, Seria
absurdo supor, sequer por um instante, que pudessem viver, nas entranhas
radiantes do Sol, os adeptos da mão esquerda e os adivinhos de Píton. É
ostensível que as vibrações solares destruiriam, aniquilariam de imediato
qualquer criatura impura.
Repito o que antes dissera: No Sol somente podem morar, solenes, os
espíritos solares, os seres inefáveis que estão mais além do bem e do mal.
P. – Diz o senhor que, na quinta infradimensão do organismo planetário, uns
eus enfrentam a outros e que também a Consciência enfrenta a esses eus,
terrivelmente malignos por sua natureza iracunda. Significa isso que a
Consciência é um terceiro em discórdia, que forma parte do mim mesmo?
V.M. – Distinto senhor! Sua pergunta é importante e com o maior gosto nos
apressamos em esclarecer.
Antes de tudo é urgente saber que o ego, o eu, o mim mesmo, o si mesmo,
não é algo individual.
Certamente, o ego é um conjunto de agregados psíquicos; estes últimos
podemos denominá-los também eus.
Nosso tal eu é, pois, uma soma de eus briguentos e gritões que levamos
dentro. Se a estes denominamos demônios, não cometeremos erro específico
definitivo.
Analisando cuidadosamente esta questão, podemos chegar à conclusão
lógica de que tais eus demônios personificam claramente nossos eus
psicológicos.
Eu os convido, senhores e senhoras, a compreender concretamente que cada
um destes eus diabos leva em seu interior certa porcentagem bem definida de
nossa própria Consciência.
Na quinta infradimensão natural de nosso planeta Terra, resulta que a
Consciência se enfrenta a si mesma, se autoconhece, vendo-se com muitos
olhos de diversos ângulos, de acordo com cada um de seus eus.
É indubitável que a Consciência trata de fugir de si mesma, de seus próprios
defeitos representativos, de suas próprias criações diabólicas.
Nada agradável resulta para os defuntos tratar de fugir de si mesmos, sentir
horror de si mesmos, tratar de ocultar uma parte dos terríveis e espantosos
olhares de outra parte ou partes de si mesmo.
Quero ajudar de alguma forma a todos aqueles que me escutam,
valendo-me, desta vez, de um símil exato.
Aqui, no México, na entrada do Castelo de Chapultepec, temos o salão dos
espelhos; os visitantes se vêem em cada um destes cristais de forma
completamente diferente.
Alguns espelhos deste decompõem nossa figura, fazendo-nos aparecer
como gigantes de outros tempos; outros nos dão o aspecto de insignificantes
anões; aqueles, o de rechochudas figuras espantosamente obesas; estes
outros, o de alongadas figuras deformadas, delgadas e horripilantes, esses
outros deformam nossa imagem, fazendo-a surgir com pernas e braços
monstruosos, etc., etc.
Imaginai, por um momento, que cada uma destas figuras fosse algum de
nossos eus, viva personificação de nossos erros.
Que seria de todas essas criaturas dos múltiplos espelhos, parte do si
mesmo, do mim mesmo, do ego que levamos dentro, se, horrorizadas, cada
uma delas quisesse, cada qual independentemente, fugir das outras?
Nós, convertidos em todos estes múltiplos eus, cada uma de nossas partes
espantada de cada uma de nossas partes, cada horror espantado de cada
horror. Esse é um suplício pior que o de Tântalo. Eis aí, pois, a tortura no
quinto círculo dantesco.
Certamente, senhores e senhoras, o ego que levamos dentro é constituído
por milhares de demônios eus que representam nossos defeitos psicológicos.
É ostensível que tal enxame de diabos controla a máquina orgânica aqui, no
mundo físico, e não guardam concordância alguma entre si.
Todos eles lutam pela supremacia, todos eles querem controlar os centros
capitais de máquina orgânica. Quando algum deles governa por um
momento, sente ser o amo, o chefe, o único. Não obstante, depois é
destronado e outro passa a ser o chefe.
Agora vos explicareis, senhores e senhoras, o motivo pelo qual todos os
seres humano, estamos cheios de íntimas contradições.
Se nos pudéssemos ver num espelho de corpo inteiro, tal como somos,
sentir-nos-íamos horrorizados de nós mesmos.
Este último é um fato concreto na quinta infradimensão natural do planeta
Terra. Não obstante, na citada região tenebrosa, o espanto é ainda mais cru,
mais realista, a tal ponto que cada uma das partes foge sem consolo,
espavorida, tratando de ocultar-se de cada uma das outras partes.
A Consciência dividida em múltiplos pedaços. Horror do Averno! Mistério!
Coisas terríveis das trevas de Minos! Ai!, Ai!, Ai!.
P. – Ainda que seja evidente que esta quinta dimensão natural de nosso
planeta Terra é muito mais densa e material que as anteriores, quisera o 
senhor explicar-nos que elementos são característicos de sua densidade?
V.M. – Cavalheiro, amigos! Certamente o quinto círculo dantesco resulta mais
denso que os quatro anteriores devido à sua composição atômica.
É de saber que cada átomo da quinta região submersa leva em seu ventre
480 átomos do Sagrado Sol Absoluto.
É evidente, pois, que a quinta região submersa resulta muito mais grosseira
que as anteriores. Por conseguinte, o sofrimento é, ali, maior.
Milhões de condenados habitam nessa zona da Terra; pessoas que se ferem
mutuamente entre si, blasfemos que maldizem o eterno Deus vivo, pessoas
cheias de ódio e de vingança, soberbos, iracundos, impetuosos, assassinos e
malvados. Todas essas pessoas crêem que vão muito bem; nenhum supõe,
sequer por um instante, que marcha pelos caminhos das trevas e do horror e
que vai mal. Todos eles se sentem santos e virtuosos. Alguns deles se
autoconsideram, qualificando-se de vítimas da injustiça. Todos, em geral,
presumem-se de justos.
P. – Com relação aos nove trabalhos que são realizados na Segunda
Montanha da Ressurreição, quisera o senhor dizer-nos qual é a diferença
entre o trabalho na quinta infradimensão do planeta Marte e do quinto círculo
dantesco do planeta Terra?
V.M. – Amigos, amigos! Convido-os a compreender o que é o trabalho da
dissolução do ego. Indubitavelmente, ao nos submergirmos, por meio da
meditação, em nossos próprios infernos atômicos, com o propósito de
compreender tais ou quais defeitos psicológicos, é inquestionável que nos
pomos em contato com tal ou qual infradimensão natural.
Sendo a quinta região submersa a seção fundamental da ira, obviamente, ao
tratar de compreender de forma íntegra os diversos processos da zanga, da
coragem, da violência, da soberba, etc., etc., etc., pomo-nos em contato com
o citado quinto círculo dantesco.
É indispensável fazer uma clara diferenciação entre aqueles elementos
inumanos que se relacionam com os nove círculos dantesco do planeta Terra,
sob a epiderme deste aflito mundo, e os elementos infraconscientes que
dentro de nossa psique guardam íntima relação com os infernos da Lua,
Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.
Porém, ouvi-me bem, senhores e senhoras, para que não existam confusões.
Distingui entre céus e infernos: O céu de cada um destes citados planetas é
totalmente diferente do inferno de cada um dos mesmos.
Aprendei sempre a situar qualquer inferno planetário dentro do reino mineral
submerso do mesmo.
Céu é diferente; é região de luz, harmonia, felicidade.
Não poderíamos ingressar em qualquer destes céus planetários sem antes
haver trabalhado em seus correspondentes infernos.
Olhai as coisas deste ângulo. É claro que jamais poderíamos ingressar no
céu de Marte sem antes haver trabalhado no inferno marciano, nas entranhas
viventes de seu próprio reino mineral submerso.
No inferno de Marte, em suas infradimensões naturais, devemos eliminar
certos estados psíquicos bruxescos, infraconscientes e inumanos.
Esta classe de trabalhos só é possível para aqueles indivíduos sagrados
conhecidos como Potestades e que se preparam para alcançar, no céu de
Marte, o estado de Virtudes.
Não obstante, qualquer trabalho nas entranhas dos outros mundos do
sistema solar guarda alguma relação psíquica com suas correspondências
seções infernais do planeta Terra.
Não olvideis, senhores e senhoras, as leis das correspondências, das
analogias e das numerologias.
De todas as maneiras, é urgente saber que, se nos infernos do planeta Marte
devemos eliminar psíquicos estados bruxescos infraconscientes, na quinta
seção correspondente e infernal do planeta Terra só nos limitamos a eliminar
os processos da ira, soberba, etc., etc.

Pluto - Círculo da avareza (4)
Círculo da ira (5) - Rio Estige
- Pape Satàn pape Satàn aleppe! - começava Pluto com sua voz rouca. Virgílio virou-se para mim e disse, com segurança:
- Não tenhas medo dele. Lembra-te que, por mais que ele tenha poder, ele não pode impedir nossa descida. - Depois, dirigiu-se a Pluto e gritou:
- Cala a boca lobo maldito! Consome em ti mesmo tua raiva. Nossa descida não é sem propósito, pois é algo que se quer nas alturas!
Diante daquela voz revestida de autoridade, Pluto mal pôde reagir. Logo fraquejou e diante de nós, tombou.
Aproveitamos, então, para descer pela beira que contorna o quarto círculo. Lá vi mais almas que em todos os círculos precedentes. Estavam organizadas em dois grupos que se enfrentavam, com os peitos nus, rolando grandes pesos em sentidos contrários até colidirem uns com os outros. Após o choque um grupo gritava "por que poupas?". O outro gritava "por que gastas?". Depois do choque seguiam em sentido contrário até se encontrarem novamente, do outro lado do círculo. E assim continuavam por toda a eternidade.
Com o coração pungido de desgosto, perguntei:
- Mestre, quem são essas pessoas? Eram padres essas almas que vejo aqui do lado, com corte de cabelos em cercilha?
- Todos - respondeu o mestre -, em sua vida terrena, não foram judiciosos com seus gastos. Isto declaram, quando se encontram nas suas culpas opostas. Esses de coroa pelada são clérigos, papas e cardeais, nos quais a avareza se manifesta mais facilmente.
- Mestre - falei - em um grupo como este certamente serei capaz de reconhecer alguém.
- É inútil a tua esperança. - respondeu o mestre - Sua vida sem conhecimento os tornou imundos e agora é mais difícil reconhecê-los. Eternamente se enfrentarão, aqueles de punho cerrado e aqueles outros sem cabelos. Mal dar e mal guardar os tirou do mundo, colocando-os nessa rinha. Mas não vale a pena mais falar deles. Vês, filho, como de nada adianta os homens brigarem pela fortuna? Pois todo o ouro que está ou já esteve sob a lua não comprará um minuto sequer de descanso para essas almas cansadas.
- Mestre meu - disse eu - me dize o que é a Fortuna de que agora falas? Como é que ela é, essa que guarda todas as riquezas do mundo em suas mãos?
- Aquele cujo saber tudo transcende - explicou-me o mestre - fez os céus e lhes deu quem os conduz, e cada esfera que brilha reflete sobre as outras, distribuindo igualmente a luz. Do mesmo modo, para as riquezas mundanas designou uma ministra para que ela cuidasse de permutar, de tempos em tempos, os bens profanos entre as nações e famílias, livres do alcance da cobiça humana. Então, enquanto uma nação impera, outra enfraquece, de acordo com o arbítrio dela, que é oculto como uma serpente na relva. Vosso saber não tem poder sobre sua lei, pois ela prevê, julga e rege sobre seu reino. E ela nunca pára. É amaldiçoada até por quem deveria louvá-la, mas como é beata, ela não os ouve, e continua a girar a sua roda eternamente.
Não demoramos mais naquele lugar pois o dia já chegava ao fim, e nosso tempo era curto. Descemos então para o quinto círculo por uma vereda escura onde nascia uma fonte de água preta e fervente. Atravessamos o riacho e acompanhamos suas encostas através de um caminho estreito, até que chegamos finalmente às margens de um vasto pântano chamado Estige, onde o riacho desaguava.
Apesar da escuridão, pude ver, naquela água escura, vultos nus cobertos de lama remexendo-se, com feições iradas. Eles esmurravam-se com as mãos, batiam cabeças, se chutavam e arrancavam as peles uns dos outros com os dentes.
- Filho - disse o bom mestre -, aqui tu vês as almas dos vencidos pela ira, e vou dizer-te ainda, se me crês, que embaixo d'água há gente que suspira, fazendo-a borbulhar. São aqueles vencidos pelo rancor, a ira contida e passiva, porém igualmente destrutiva. Eles gorgolam o lodo e formam as bolhas que pipocam sobre esta lama fétida.
Depois demos uma grande volta, seguindo entre o rio e a orla seca, sempre observando aqueles que engoliam a lama, até chegarmos ao pé de uma alta torre, no final.

Flégias - Demônios - A cidade de Dite
Eu devo explicar que, bem antes de chegarmos ao pé daquela torre, já observávamos as duas chamas que havia no seu cume. Na escuridão do rio, outra luz tão distante que quase não se via, respondia com um sinal. Voltei-me ao mar de toda sabedoria, e perguntei:
- Que sinais são estes? E aquela outra chama, o que ela responde? Quem é que as provoca?
- Sobre esta lama imunda em breve poderás perceber o que se espera - respondeu Virgílio.
Mal ele terminara de falar, da escuridão surgiu um barquinho pilotado por um barqueiro solitário, cortando a água em nossa direção.
- Chegaste, alma culposa! - gritou ele ao ancorar.
- Flégias, Flégias, desta vez tu gritas em vão - respondeu o meu senhor -, pois só vais nos levar à outra margem e nada mais. Contendo a sua ira, o barqueiro concordou. Meu guia calmamente embarcou e depois eu entrei, e só então o barco pareceu carregado.
Flégias (o barqueiro) realiza a travessia do Rio Estige levando Dante e Virgílio. No fundo se vê a cidade de Dite e o fogo eterno. Dentro do rio estão os condenados pelo pecado da ira. Pintura de Eugène Delacroix (séc XIX).
Flégias (o barqueiro) realiza a travessia do Rio Estige levando Dante e Virgílio. Dentro do rio estão os condenados pelo pecado da ira. Ilustração de Gustave Doré (séc XIX).
No meio do caminho, um ser lamacento surgiu das águas e me chamou, perguntando:
- Quem és tu que vens antes do tempo?
- Venho - respondi -, mas não demoro, mas quem és tu tão revoltoso?
- Eu sou um dos que chora, como podes ver.
- Com choro e com luto, espírito maldito, que assim permaneças, pois eu te conheço, mesmo tão sujo!
Depois que eu lhe respondi, ele irritou-se e saltou sobre o barco, tentando me agarrar. Virgílio, porém, foi mais rápido e conseguiu lançá-lo de volta ao rio.
- No mundo este homem foi pessoa orgulhosa - disse o mestre - e nada de bom resta em sua memória. Por isto é que sua alma está aqui tão furiosa. Quantos lá em cima se julgam grandes reis e aqui estarão como porcos na lama?
- Mestre - falei -, muito me agradaria também vê-lo aqui afundado na lama antes que saíssemos deste lago.
- Antes que apareça a outra costa - respondeu o mestre - teu desejo será satisfeito.
Pouco depois, ouvi seus companheiros o massacrarem. Eles gritavam: "Vamos pegar Filippo Argenti!". Deleitei-me ao ver aquele florentino arrogante morder a si mesmo com os dentes de raiva.
E lá o deixei, e disso não falo mais. Comecei, então, a ouvir vozes dolorosas, que me impeliram a olhar adiante.
- E agora meu filho - chamou-me o mestre - nos aproximamos da cidade que se chama Dite, com seus tristes cidadãos e grande companhia.
- Mestre, - observei - já posso ver as suas mesquitas logo acima do vale infernal! Elas brilham, vermelhas como ferro em brasa.
- É o fogo eterno que arde no seu interior que faz esse brilho rubro se espalhar pelo baixo inferno. - completou Virgílio.
Entramos no fosso que cerca a cidade e Flégias deu uma grande volta em torno dela, onde pude observar seus muros que pareciam ser de ferro. Quando chegamos diante da entrada da cidade, Flégias gritou alto com toda a força:
- Saiam! Saiam logo! É aqui a entrada.
Descendo do barco, fomos recepcionados por um grupo de demônios. Eles chegaram e perguntaram:
- Quem é esse que, sem morte, anda pelo reino da morta gente?
O sábio mestre veio em meu auxílio. Dirigindo-se aos demônios, fez sinais indicando que gostaria de falar com eles secretamente. Responderam os diabos, disfarçando sua arrogância:
- Tudo bem, mas vem tu sozinho. E esse outro aí, que achava que podia andar como rei nesta terra, que prove que pode voltar sozinho se souber, pois tu que o guiaste até aqui vais ficar conosco!
Apavorei-me diante dessas palavras e temi não mais poder voltar a ver o mundo outra vez.
- Caro meu guia - chorei, em desespero -, que tantas vezes me deste segurança, não me deixes, por favor! Se não pudermos prosseguir nesta jornada, que voltemos já sem demora!
Mas ele, confiante, me respondeu:
- Não temas, porque o nosso passo, ninguém pode impedir. Mas espera aqui e descansa. Não deixes de ter esperança, pois podes ter certeza que não te deixarei sozinho neste mundo baixo.
Ele falou e foi encontrar-se com os diabos, e eu fiquei só a observar de longe. Não ouvi a conversa. Só vi a briga de longe e a porta da cidade se fechar diante de Virgílio, que voltou para mim cabisbaixo, em um passo lento.
- Olha só quem me nega a cidade da dor! - disse, triste - Mas não temas, pois ainda vencerei esta prova. A esta hora já deve estar no portal deste inferno alguém por quem esta entrada será aberta.

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