segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Terceiro Ciclo de Venus

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Amigos que esta noite me escutam!
Vamos diferenciar sobre os infernos venusianos, situados, como já é sabido,
nas infradimensões da natureza, debaixo da epiderme da Terra.
Inquestionavelmente, trata-se de uma região muito mais densa que as duas
anteriores, muito mais grosseira, porque cada átomo de matéria contém, em
seu interior, 288 átomos do Absoluto.
Obviamente, trata-se de átomos mais pesados e, portanto, a materialidade é
muitíssimo maior.
Ademais, o próprio fato de estar governada por 288 leis faz de tal zona
subterrânea algo demasiado complicado e espantosamente difícil e doloroso.
Observemos, cuidadosamente, as cantinas, os cabarés, os prostíbulos, etc.,
etc., em nosso mundo tridimensional de Euclides.
Inquestionavelmente, a sombra vital de tudo isto, o aspecto sinistro das
grandes orgias e bacanais, podemos encontrá-lo na esfera submersa de
Vênus.
Aqueles que viveram sempre de orgia em orgia, de cantina em cantina,
submergidos no lodo dos grandes festins, banquetes e bebedeiras, sabem
muito bem o que se sente depois de uma noite de farra. Muitos, querendo
afogar no vinho o estado desastroso em que ficam depois de uma bebedeira,
continuam pelo caminho do vício até chegar à catástrofe total de seu
organismo.
Ampliando esta questão, aprofundando um pouco mais este tema, posso
afirmar aos senhores, de forma enfática, que, depois do prazer, vem a dor.
Agora poderão explicar, por si mesmos, qual há de ser a vida ou como há de
ser a existência das almas perdidas na região submersa de Vênus.
Com justa razão, Dante encontrou, nos abismos submersos do terceiro
círculo infernal, chuva incessante, frio espantoso, lodo, águas negras,
podridão, etc. Não obstante, os defuntos, nestas regiões, escutam com horror
os espantosos latidos de Cérbero, o cachorro infernal. Simbólico cão que,
com suas três fauces cruéis, representa as paixões animais sexuais violentas,
luciferinas, fora de todo o controle.
Ali, os prazeres da velha Roma dos césares, convertidos em resultados fatias.
Ali, Petrônio, que morrera no meio do bulício e da festa, amado por todas as
mulheres e coroado com rosas e lauréis.
Ali, a deusa Lesbos e suas lesbianas. Ali, a poetisa Safo, que cantara todos
os degenerados de sua época. Ali, a lira de Nero, feita em pedaços, e os
orgulhosos senhores dos grandes festins.
Grotesca morada dos heliogábalos, glutões famosos, verdadeiros pavões
reais, resplandecendo gloriosos nos antigos bulícios.
Que foi de seus copos de fino bacará? Em que ficaram as espadas dos
cavalheiros, seus juramentos de amor, os beijos de sua dama, suas doces
palavras, o aplauso dos convidados, as lisonjas, os louvores, as régias
vestiduras, o perfume das damas, os bailes soberbos, as macias alfombras,
os brilhantes espelhos, os régios poemas, a púrpura maldita e as belíssimas
sedas?
Agora, só a pestilência do mundo soterrado, onde Ciacco profetizara a Dante
a queda do partido vitorioso na bela Florença e o triunfo dos humilhados, os
quais, depois, novamente vencidos, foram dominados de forma mais tirânica
pelos primeiros. Abominável zona de amarguras, onde este poeta, discípulo
de Virgílio, de forma insólita, pergunta por Farinata e Tegghiaio e por outros
que se dedicaram a fazer bem e que agora moram em regiões ainda mais
profundas dos mundos infernos.
Muitos equivocados sinceros involucionando espantosamente nessas regiões
abismais, pessoas que alegraram com sua lira as salas fastuosas dos
grandes senhores, formosas donzelas virtuosas que cantaram poemas,
infelizes bebedores de vinho nos subúrbios das cidades, etc., vivem, agora,
nestes infernos do terceiro círculo dantesco.
P. – Querido Mestre, menciona o senhor que, neste terceiro círculo dantesco
de Vênus, habitam muitos equivocados sinceros, quer dizer, muitas almas
que indubitavelmente fizeram boas obras e que, não obstante a isso,
padecem nesses infernos. Eu pergunto se acaso a sinceridade das citadas
almas não constitui um atenuante que as salve de tão tenebroso castigo?
V.M. – Amigo, senhor que faz a pergunta! Muito bem podemos praticar na
vida e pode você estar seguro de que as boas obras serão sempre pagas
com acréscimo. O divinal jamais fica com nada, sempre paga a cada qual
segundo suas obras.
Com paciência, rogo aos senhores pôr atenção, seguir o curso desta
dissertação. Ouçam-me! Escutem-me! Todo aquele que esgotou o ciclo das
108 existências ingressa na involução submersa dos mundos infernos, se não
logrou a auto-realização íntima do Ser.
Não obstante, é ostensível que, antes de entrar na morada de Plutão, nos
pagam primeiro as boas obras.
Agora explicar-se-ão vocês, senhores e senhoras, o motivo pelo qual muitos
perversos, em sua vida atual, vivem na opulência, enquanto alguns santos ou
pessoas que se estão auto-realizando apenas, sim, têm pão, abrigo e refúgio.
É inquestionável que, depois de serem bem pagas as boas obras, aqueles
que estão sem auto-realização ingressam nos abismos subterrâneos.
Também há pessoas piedosas com delitos secretos inconfessáveis. O que de
bom têm foi sempre bem pago pela lei do carma; porém, o mal as leva ao
abismo de perdição.
Entenda, pois, amigo, o que é a lei de retribuição. Compreendam todos, por
favor, compreendam.
P. – Venerável Mestre, quisera que o senhor me explicasse por que os
fornicários habitam a região de Mercúrio, que é uma zona menos densa que a
de Vênus, e os glutões e bêbados habitam a região de Vênus, que é ainda
mais densa que a anterior?
V.M. – Senhores, senhoras, distinto cavalheiro que faz a pergunta!
Compreendam-me, por favor!
Foi-nos dito, de forma enfática, que o pecado original é a fornicação e este é
o embasamento das ondas involucionantes dos mundos infernos.
Não estou dizendo que, no terceiro círculo infernal, vivam exclusivamente os
bêbados e os glutões; é óbvio que os perdidos são cem por cento fornicários
irredentos. Agora explicar-se-ão os senhores, por si mesmos, o motivo pelo
qual Dante encontrara o cão Cérbero, símbolo vivo dos poderes sexuais,
ladrando lugubremente nas tenebrosas regiões.
Isto significa claramente que os habitantes das submergidas regiões jamais
estão livres da luxúria e sofrem espantosamente.
Entretanto, devemos especificar e assim o faz o discípulo de Virgílio e
também nós. Em cada um dos nove círculos ou regiões infradimensionais da
natureza, ressaltam determinados defeitos que levamos dentro e isso é tudo.
P. – Mestre, aprendemos, ao estudar as cartas do tarô egípcio, que o cão
simboliza o Espírito Santo, enquanto nos guia para sair do Inferno, quando
nos decidimos nos auto-realizar. Porém, o Cérbero do qual fala Dante, pelo
que o senhor nos diz, simboliza a luxúria. Quisera o senhor esclarecer-nos
esta dissertação?
V.M. – Cavalheiro! Seja-me permitido informar-lhe que o cão de Mercúrio é
estritamente simbólico, pois alegoriza claramente o poder sexual.
Hércules o tirou do Abismo para que lhe servisse de guia e isso mesmo
fazemos nós quando conseguimos a castidade. Então, trabalhando na Forja
dos Cíclopes, praticando magia sexual, transmutando nossas energias
criadoras, avançamos pela Senda do Fio da Navalha até a liberação final.
Ai do cavalheiro que abandona seu cão! Extraviar-se-á do caminho e cairá
no abismo de perdição.
Desafortunadamente, o animal intelectual, equivocadamente chamado
homem, não logrou a castidade; quer dizer, não tirou Cérbero dos domínios
infernais.
Agora, explicar-se-ão os senhores, por si mesmos, o motivo pelo qual
sofrem os defuntos nos abismos plutonianos, quando escutam os ladridos de
Cérbero, o cão das três fauces famintas.
É óbvio que os perdidos sofrem com a sede insaciável da luxúria no
espantoso Tártaro.
P. – Mestre, poderia dizer-nos como são os bacanais e as orgias no terceiro
círculo dantesco ou região submersa de Vênus?
V.M. – Senhores, senhoras! Ao escutar esta pergunta, vêm à minha memória
aqueles tempos da juventude.
Então, eu também concorri aos grandes festins, onde brilhava, no meio do
bulício e da festa; noites de bebedeira e de orgia que só deixavam
amarguras, remorsos de consciência, etc., etc., etc. Depois de uma dessas
festas, fui levado ao terceiro círculo dantesco. Absolutamente consciente,
vestido com meu corpo astral, sentei-me à cabeceira da mesa fatal, na festa
dos demônios.
Crua realidade de uma materialidade espantosa, cuja só recordação comove
as fibras mais íntimas de minha alma.
A mesa estava cheia de garrafas de licor e pratos imundos, muito especiais
para glutões.
No centro daquela mesa havia uma grande bandeja, sobre a qual ressalta
uma cabeça de porco.
Horrorizado ante aquele festim macabro, horripilante, olhava com dor o lugar
da orgia.
De repente, tudo mudou. Meu Real Ser divinal, o Íntimo, aquele anjo do
Apocalipse de São João que tem em suas mãos a chave do Abismo,
agarrando-me fortemente por um braço, arrancou-me daquela sala como por
encanto e, arrojando-me sobre um branco lençol mortuário que ali havia,
sobre o asqueroso piso cheio de lodo, com uma grande corrente me açoitou,
ao mesmo tempo que me dizia: "Tu és meu boddhisattwa, minha alma
humana, e te necessito para entregar a mensagem da nova Era de Aquário à
humanidade. Vais me servir ou o quê?" Então, eu, compungido de coração,
lhe respondi: "Sim, senhor! Servir-te-ei, estou arrependido; perdoa-me,
pois!"
Assim foi, amigos, como vim a aborrecer licores, festins, glutonices,
bebedeiras, etc., etc., etc. De toda essa imundície, o único que resulta são as
lágrimas, simbolizadas pela chuva dessa horrível região, por essas águas
pestilentas da amargura e pelo lodo horroroso da miséria.

Cérbero - Círculo da gula (3) - Espírito de Ciacco
Quando acordei já estava no terceiro círculo, cercado de mais tormentos e mais atormentados que surgiam de todos os lados. Uma chuva, gélida, eterna, com neve e granizo, caía sobre a lama podre que as almas encharcavam. Cérbero, fera cruel e perversa, latia com suas três goelas para as almas submersas na lama. Ele tem uma barba negra e seis olhos vermelhos, ventre largo e garras aguçadas com as quais rasga os pecadores e os tortura. Elas berravam como cães e se contorciam na lama, tentando em vão se proteger das chicotadas da chuva dura.
Quando Cérbero nos viu, abriu suas três bocas e exibiu suas presas, rangendo e estremecendo diante de nós. Meu mestre, cauteloso, encheu suas mãos de terra e atirou nas goelas do cão danado. O monstro, guloso, não hesitou em engolir a terra, se emperrou com ela e ficou em silêncio, como um cão faminto que se ocupa com o seu osso.
Caminhamos, então, por entre as almas, pisando espectros vazios que se assemelhavam a formas humanas. Todos os espíritos jaziam deitados, se confundindo com a lama que assumia suas formas, transparentes, exceto um que se ergueu na hora em que passávamos na sua frente.
- Ó tu que és guiado por este inferno - falou - me reconhece, se puderes, pois tu foste vivo antes que eu fosse desfeito.
- A angústia - disse eu - te deforma de maneira que eu não consigo reconhecer-te. Mas dize-me quem tu és, condenado a este lugar vil e submetido a tamanha tortura.
- A tua cidade - respondeu -, tão invejosa, um dia me teve na vida serena. Teus conterrâneos me chamam Ciacco e por causa da gula sofro na chuva, como estas outras almas, condenadas por semelhante culpa.
- Ciacco - eu disse a ele -, teu estado miserável me causa grande tristeza, mas dize-me o que vai acontecer, se souberes, com os cidadãos de nossa Florença?
- Depois da paz, haverá guerra e sangue. - relatou Ciacco - O partido rústico (os Bianchi) expulsará a outra parte brutal (os Neri), mas, depois de três sóis, com a ajuda daquele que agora parece estar dos dois lados (Bonifácio VIII), voltarão ao poder, e por longos anos manterão os outros afastados, por mais que implorem ou chorem.
Quando ele terminou de narrar sua terrível profecia, perguntei-lhe:
- Onde estão Farinata e Tegghiaio, Jacopo Rusticucci, Arrigo, Mosca, e tantos outros que usaram seu gênio para o bem? Estarão eles aqui ou estarão eles no céu?
- Tu os encontrarás mais embaixo, nas valas abissais. - disse a alma - Se desceres mais, poderás vê-los todos! Mas quando voltares mais uma vez ao mundo doce, te imploro que leve minha lembrança aos que lá deixei. Não mais te digo nem te respondo.
Depois que terminou de falar, Ciacco afundou e desapareceu de repente. O mestre então falou:
- Este não mais se levantará até o dia em que soar a trompa angelical. Quando isto acontecer, a adversa potestade virá e cada alma voltará à sua tumba, retomará sua carne e sua forma humana, e ouvirá a voz que eterna soa.
E assim cruzamos aquela mistura suja de almas com chuva, aproveitando para falar um pouco da vida futura. Perguntei:
- Mestre, quanto a este tormento, ele crescerá, será o mesmo ou será atenuado após a grande sentença?
- Retorna a tua ciência na qual se ensina que o ser mais perfeito mais sente seja o bem ou a ofensa, embora essas almas malditas nunca possam um dia chegar à perfeição, para lá, mais que para cá, será sua sina.
Ao nos aproximarmos da entrada para o quarto círculo, encontramos Pluto, grande inimigo. 

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