sexta-feira, 21 de outubro de 2011

“Três filósofos de Mileto”

O primeiro filósofo de que temos notícia é Tales, da colônia grega de Mileto, na
Ásia Menor. Ele viajava freqüentemente. Diz-se que, certa vez, teria medido a altura de
uma pirâmide no Egito, medindo a sombra da pirâmide no momento em que a sua própria
sombra estava tão alta como ele. Além disso, conseguiu prever um eclipse do Sol no ano
585 a.C.
Para Tales, a água era a origem de todas as coisas. Não sabemos exatamente o que
ele queria dizer com isto. Talvez quisesse dizer que toda a vida começa na água - e que toda
a vida se torna de novo água quando se inicia a degradação.
Quando esteve no Egito, viu certamente como os campos ficavam férteis quando o
Nilo abandonava as terras que constituíam o seu delta.
Talvez tenha visto também como as rãs e os vermes surgiam à luz do sol depois de
ter chovido.
Além disso, é provável que Tales se tenha questionado quanto ao modo como a
água se pode tornar gelo e vapor – e de novo água.
Afirma-se que Tales disse que "tudo está cheio de deuses". Apenas podemos
avançar hipóteses sobre a interpretação desta frase. Talvez tivesse pensado que a terra era a
origem de tudo, desde as flores e as sementes, até às abelhas e baratas. Tinha chegado à
conclusão de que a terra estava cheia de pequenos "gérmenes da vida" invisíveis. O que é
certo é que não estava a pensar nos deuses homéricos.
O filósofo seguinte de que temos conhecimento é Anaximandro, que viveu
igualmente em Mileto. Para ele, o nosso mundo é apenas um dos muitos que nascem de
algo e perecem em algo que ele denominou o infinito. É difícil dizer o que queria significar
com o termo infinito, mas sabemos que não pensava, ao contrário de Tales, numa
substância totalmente determinada. Talvez quisesse dizer que aquilo, a partir do qual tudo é
criado, tem de ser completamente diferente de tudo o que é criado. E visto que tudo o que é
criado é finito, tudo o que lhe é anterior ou posterior tem de ser infinito. É claro que o

elemento primordial não podia ser, assim, simples água.
Um terceiro filósofo de Mileto era Anaxímenes (cerca de 570-526 a. C.). Para ele,
o ar era o elemento primordial de todas as coisas. Anaxímenes conhecia, naturalmente, a
teoria de Tales sobre a água. Mas de onde surge a água? Para Anaxímenes, a água era ar
condensado. Nós sabemos que, ao chover, a água é condensada a partir do ar. Quando a
água é ainda mais condensada, torna-se terra, segundo Anaxímenes. Talvez tivesse visto
que, quando o gelo se derrete, "expele" terra e areia.
De modo análogo, pensava que o fogo era ar rarefeito. Segundo Anaxímenes, a
terra, a água e o fogo tinham origem no ar.
A passagem da terra e da água às plantas no campo não era demorada. Talvez
Anaxímenes pensasse que a terra, o ar, o fogo e a água tivessem de existir para que pudesse
nascer vida. Mas o verdadeiro ponto de partida era o ar. Ele partilhava, portanto, a
concepção de Tales, segundo a qual um elemento primordial estava na origem de todas as
transformações na natureza.
“Do nada, nada pode nascer”.
Os três filósofos de Mileto acreditavam num – e apenas num elemento primordial,
a partir do qual todas as outras coisas eram criadas. Mas como poderia uma substância
transformar-se de repente e tornar-se uma coisa completamente diferente? Podemos
designar este problema pelo problema do devir.
A partir de aproximadamente 500 a.C. viveram na colônia grega de Eléia, na Itália
meridional, alguns filósofos, e estes "eleatas" tratavam destes problemas. O mais conhecido
de entre eles era Parmênides (aproximadamente 540-480 a.C.).
Parmênides acreditava que tudo o que existe, existiu sempre. Esta idéia estava
bastante difundida entre os Gregos. Tinham como evidente que tudo o que há no mundo
existiu desde sempre. Do nada, nada pode nascer, pensava Parmênides. E nada do que
existe pode tornar-se nada.
Mas Parmênides foi mais longe que a maior parte dos outros. Para ele, não era
possível nenhuma verdadeira transformação. Uma coisa só se pode transformar naquilo que
já é.
Parmênides não tinha dúvidas de que na natureza se dão constantemente
transformações. Os seus sentidos apercebiam-se do devir das coisas. Mas não conseguia
fazer coincidir o que os seus sentidos registravam com o que a razão lhe dizia. Quando foi
obrigado a decidir se devia confiar nos sentidos ou na razão, decidiu-se pela razão.
Conhecemos a frase: "Só acredito naquilo que vejo." Mas Parmênides nem sequer
acreditava no que via. Pensava que os sentidos nos forneciam uma imagem falsa do mundo,
uma imagem que não coincidia com o que a razão diz aos homens. Enquanto filósofo,
encarava a sua tarefa como o desmascarar de todas as formas de "ilusões sensoriais".
Esta forte confiança na razão humana é designada “racionalismo”. Um racionalista
é uma pessoa que tem uma grande confiança na razão humana, como fonte do nosso
conhecimento sobre o mundo.
Extraido do livro o mundo de Sophia

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