sexta-feira, 23 de setembro de 2011

2 Parte - Os Três Aspectos do Interior da Terra

P. – Mestre, pelo que nos expôs anteriormente, devemos entender que
debaixo das camadas inferiores da Terra só existem infradimensões, já que
as supradimensões, que correspondem aos céus, somente se encontram
acima da camada terrestre?
V.M. – Distinto senhor! Sua pergunta me parece certamente interessante e
me apresso a responder-lhe.
É bom que todos os senhores entendam que este organismo planetário em
que vivemos tem, em seu interior, três aspectos claramente definidos.
Primeiro, região mineral meramente física. Segundo, zona supradimensional.
Terceiro, zona infradimensional.
P. – Aceitando que no interior da Terra existiriam estes três aspectos de que
nos fala (e, no meu caso, o aceito hipoteticamente, esclareço), teríamos que
chegar à conclusão de que as nove esferas celestes convivem com os
infernos que correspondem às infradimensões. Acaso é congruente que os
céus se situem na mesma localidade que têm os infernos?
V.M. – Distinto cavalheiro! É urgente compreender, de forma integral, que
tudo na natureza e no cosmos se resume em somas e restos de dimensões
que se penetram e compenetram mutuamente sem se confundir.
Existe um postulado hermético que diz: "Tal como é acima é abaixo". Aplique
o senhor este postulado ao tema em questão.
É ostensível que os nove céus têm, no interior de nosso organismo planetário,
suas correlações de acordo com a lei das correspondências e da analogias.
Estes nove céus, no interior do organismo planetário em que vivemos,
correlacionam-se inteligemente com as nove zonas profundas do planeta
Terra.
Porém, ainda não expliquei a fundo a questão. O que sucede realmente é que
estes nove céus têm um centro de gravitação atômico, situado exatamente no
centro do planeta Terra.
De outra forma, quero dizer-lhe e dizer-lhes a todos vocês, senhores e
senhoras, que os nove céus gravitam no átomo central do planeta Terra,
estendendo-se muito mais além de todo o sistema solar.
Este mesmo processo se repete com cada um dos planetas do sistema solar
de Ors.
P. – Esta exposição, Venerável Mestre, me parece muito bela e encaixa
perfeitamente nas lacunas de meu entendimento; porém devo manifestar que,
de acordo com os preceitos da lógica, não pode demonstrar com clareza a
explicação que o senhor nos deu; portanto, como podemos chegar a verificar
sua afirmação neste sentido?
V.M. – Estimável cavalheiro! Sua pergunta é inquietante.
Inquestionavelmente, a lógica formal nos conduz ao erro. Não é por meio de
tal lógica que podemos chegar à experiência do real; necessitamos de uma
lógica superior, que existe afortunadamente. Já Ouspensky escreveu o
"Tertium Organum", o terceiro cânone do pensamento. É ostensível que
existe o sentido da unidade na experiência mística de muitos sujeitos
transcedidos.
Tais homens, mediante o desenvolvimento de certas faculdades
cognocistivas, puderam verificar, por si mesmos e de forma direta, a realidade
dos mundos infernos no interior deste planeta em que vivemos.
O interessante de tudo isto é que os dados enunciados por uns e outros
adeptos são similares, apesar de morarem tais homens em diferentes lugares
da Terra.
P. – Quer dizer-nos então, Mestre, que somente a certos e muito reduzido
número de adeptos tocou a sorte de ter estes poderes cognoscitivos; é lhes
dado comprovar as infradimensões e as supradimensões dos planetas e do
cosmos, bem como do próprio homem?
V.M. – No terreno da experimentação direta, no campo da metafísica prática,
existe uma variedade de sujeitos com faculdades psíquicas mais ou menos
desenvolvidas.
É óbvio que há discípulos e mestres. Os primeiros podem dar-nos
informações mais ou menos incipientes; os segundos, os adeptos ou mestres,
dispõem de faculdades imensamente superiores que os capacitam para
investigações de fundo, que lhes permitem, então, falar de forma mais clara,
mais precisa e mais detalhada.
P. – Se o senhor, Mestre, nos ensinou que corroboremos, por experiência
própria, o que afirmam os adeptos e os iluminados, cabe, então, a
possibilidade de que nós, os profanos, possamos verificar, por vivência
própria, a realidade dos mundos infernos, fora das experiências de um
simples pesadelo causado por uma indigestão estomacal?
V.M. – Estimável senhor! É óbvio que a experimentação direta no terreno da
metafísica só é exeqüível a sujeitos que tenham desenvolvido as faculdades
latentes do homem. Mas, quero dizer-lhe, com inteira claridade, que toda
pessoa pode experimentar sumariamente o cru realismo de tais infernos
atômicos, quando cai nesses asquerosos pesadelos.
Indubitavelmente, não quero dizer com isto que os mencionados pesadelos
permitam a verificação completa do cru realismo das infradimensões da
natureza.
Quem quiser realmente vivenciar isso que está por baixo do mundo
tridimensional de Euclides deve desenvolver certas faculdades e poderes
psíquicos muito especiais.
P. – É possível que todos nós possamos desenvolver estas faculdades?
V.M.- Distinto cavalheiro! Quero informar-lhe que o Movimento Gnóstico
Internacional possui métodos e sistemas, mediante os quais todo ser humano
pode desenvolver, de forma consciente e positiva, seus poderes psíquicos.
P. – Mestre, poderia dizer-nos o que devemos entender acerca de que o
demônio habita em infernos que têm labaredas de fogo e um tremendo cheiro
de enxofre, onde se castiga os seres que nesta vida se portaram mal?
V.M. – Vou dar resposta à pergunta do cavalheiro. Inquestionavelmente, nas
regiões submersas do reino mineral, sob a própria epiderme do planeta Terra,
existem diversas zonas. Recordemos, por um instante, a zona ígnea. É
ostensível que está demonstrada com a erupção dos vulcões. Citemos a zona
aquosa. Ninguém poderia negar que, no interior deste organismo planetário,
haja água. Pensemos, por um momento, no elemento etéreo. Ainda que
pareça incrível, dentro de nosso planeta Terra existem também correntes de
ar, zonas especiais. Até se tem dito, com inteira claridade meridiana, que
existe, no interior deste mundo, certa vasta região completamente oca, aérea,
diríamos nós. De modo algum poderíamos negar o realismo de pedras,
areias, rochas, metais, etc., etc., etc.
Ao pensar em conceito de demônio ou demônios, relembremos também as
almas perdidas. Isto é verdadeiramente interessante.
Muitos habitantes do interior ou demônios, relembremos também as almas
perdidas. Isto é verdadeiramente interessante.
Muitos habitantes dos mundos infernos moram na região do fogo; mas outros
vivem nas regiões aéreas e, por último, habitam as regiões aquáticas e as
zonas minerais.
É óbvio que os habitantes do interior terrestre se encontram muito
relacionados com o enxofre, posto que isto é parte integrante dos vulcões.
Porém, é evidente que, de forma específica, só os moradores do fogo
poderiam achar-se tão associados ao enxofre. Quero, pois, distinto
cavalheiro, honorável público, respeitáveis senhores e senhoras, que vocês
compreendam o Inferno ou "Infernus" na forma cruamente natural, sem
artifícios de nenhuma espécie.
P. – Poderia o senhor dizer-me, Mestre, por que, sendo a região do baixo
ventre a dos mundos infernos, encontra-se situada na região do cordão
prateado? Quer dizer isto que dito cordão se comunica constantemente com
nossos mundos infernos?
V.M. – Honorável senhor! Quero responder-lhe com perfeita clareza. Muito se
tem dito sobre o cordão de prata; é indubitável que toda alma está conectada
ao corpo físico por meio desse fio magnético. Foi-nos dito que um ramo deste
cordão, ou fio da vida, se acha relacionado com o coração e que o outro, com
o cérebro.
Diversos autores enfatizam a idéia de que sete destes ramos derivados do
cordão de prata encontram-se conectados com sete centros específicos do
organismo humano.
Em todo caso, esse fio na vida, esse cordão do qual o senhor nos fala, base
própria de sua pergunta, de modo algum está conectado aos sete chacras do
baixo ventre. Resulta interessante saber que, durante as horas de sono, a
Essência, a alma, escapa do corpo físico para viajar a diferentes lugares da
Terra ou do cosmos. Então, o fio magnético de nossa existência se solta, se
alonga-se infinitamente, atraindo-nos, depois, ao corpo físico para despertar
no leito.
P. – Mestre, poderia ampliar-me isto que o senhor acaba de dizer, com
respeito a que os sete chacras se encontram no baixo ventre, já que nos
disse em outras conferências, em seus próprios livros inclusive, que os sete
chacras se encontram repartidos em diferentes partes de nosso organismo?
V.M. – Honorável cavalheiro! Escutei sua pergunta e me apresso a
responder-lhe com o maior agrado.
Vejo que você, senhor, confundiu os sete chacras do baixo ventre com as
Sete Igrejas do Apocalipse de São João, situadas na espinha dorsal.
Indubitavelmente, em nenhuma parte da conferência que esta noite estamos
desenvolvendo aqui, na cidade do México, D.F., fiz alusão alguma a tais
centros magnéticos ou vórtices de força, situados no bastão de Brahama, ou
medula espinhal.
Só temos citado, mencionado as sete portas infernais de que fala a religião de
Maomé, os sete centros específicos ou chacras situados no baixo ventre e
relacionados com os mundos infernos. Isto é tudo! Entendido?
P. – Por todo o antes exposto, podemos coligir, Venerável Mestre, que o
aspecto físico do centro da Terra pertence ao mundo tridimensional e que os
aspectos supradimensionais e infradimensionais estão situados nessas
regiões subterrâneas do planeta, onde não chega a percepção intelectual e
sensorial tridimensional do animal racional?
V.M. – Distinto cavalheiro! Quero informar ao senhor e, em geral, a todo este
auditório que me escuta que nossos cinco sentidos só percebem os aspectos
tridimensionais da existência; entretanto, são incapazes de perceber os
aspectos supradimensionais ou infradimensionais da Terra e do cosmos.
É óbvio que as regiões subterrâneas de nosso mundo revestem-se de três
aspectos fundamentais. Entretanto, os sentidos ordinários só percebem de
forma só percebem de forma superficial o físico, o tridimensional. Se
queremos conhecer as dimensões superiores e inferiores do interior da Terra,
devemos desenvolver outras faculdades de percepção que se encontram
latentes na raça humana.
P. – Querido Mestre, devemos entender que tanto nas supradimensões como
nas infradimensões habitam seres vivos?
V.M. – Amigos meus! Inquestionavelmente, as três zonas do interior do nosso
mundo estão habitadas. Se nas infradimensões vivem as almas perdidas, nas
supradimensões do interior planetário moram muitos Devas, elementais de
ordem superior, deuses, mestres, etc., que trabalham intensivamente com as
forças inteligentes desta grande natureza. Poderíamos falar muito
extensamente sobre as populações das zonas central, ou supradimensionais,
ou infradimensionais do interior do nosso mundo; porém, isto o deixaremos
para as próximas conferências. Por hora me despeço dos senhores,
desejando-lhe muito boa noite.

Canto I
A selva escura - As feras - O espírito de Virgílio
Quando eu me encontrava na metade do caminho de nossa vida, me vi perdido em uma selva escura, e a minha vida não mais seguia o caminho certo. Ah, como é difícil descrevê-la! Aquela selva era tão selvagem, cruel, amarga, que a sua simples lembrança me traz de volta o medo. Creio que nem mesmo a morte poderia ser tão terrível. Mas, para que eu possa falar do bem que dali resultou, terei antes que falar de outras coisas, que do bem, passam longe.
Eu não sei como fui parar naquele lugar sombrio. Sonolento como eu estava, devo ter cochilado e por isso me afastei da via verdadeira. Mas, ao chegar ao pé de um monte onde começava a selva que se estendia vale abaixo, olhei para cima e vi aquela ladeira coberta com os primeiros raios do sol. A cena trouxe luz à minha vida, afastou de vez o medo e me deu novas esperanças. Decidi então subir aquele monte. Olhei para trás uma última vez, para aquela selva que nunca deixara uma alma viva escapar, descansei um pouco, e depois, iniciei a escalada.
Dante perdido na selva escura.
Ilustração de Gustave Doré (séc XIX).
Eu havia dado poucos passos, quando, de repente, saltou à minha frente um ágil e alegre leopardo. Astuto, de pêlos manchados, de todas as formas ele impedia que eu seguisse adiante. Não adiantava desviar ou buscar um outro caminho pois no final, ele sempre estava lá, bloqueando a minha passagem. Várias vezes tentei vencê-lo. Várias vezes falhei.
O dia já raiava e o sol nascia com aquelas mesmas estrelas que acompanharam o mundo no seu primeiro dia. A luz e a claridade daquele dia especial renovaram minhas esperanças, e me fizeram acreditar que iria conseguir vencer aquela fera malhada.
Mas a minha esperança durou pouco e o medo retornou quando vi surgir, diante de mim, um leão. Ele parecia avançar na minha direção, com a cabeça erguida, tão faminto e raivoso que até o próprio ar parecia temê-lo. E depois veio uma loba, magra e cobiçosa, cuja visão tornou minha alma tão pesada, pelo medo que me possuiu, que não vi mais esperança alguma na escalada. A loba avançava, lentamente, e me fazia descer, me empurrando de volta para aquele lugar onde a luz do Sol não entra.
Quando eu já me encontrava na beira daquele vale escuro, meus olhos aos poucos perceberam um vulto que se aproximava, que apagado estivera, talvez por excessivo silêncio.
- Tenha piedade de mim - gritei ao vê-lo - quem quer que sejas, sombra ou homem vivo!
- Homem não mais - respondeu o vulto -, homem eu fui um dia. Nasci em Mântua, nos tempos de Júlio César e vivi em Roma no império de Augusto. Fui poeta e narrei a odisséia de Enéas, que fugiu de Tróia depois do incêndio. E tu, por que não sobes o precioso monte, princípio e causa de toda glória?
- Tu és Virgílio? - perguntei, vergonhoso - Ora, tu és meu mestre e meu autor predileto! Foi contigo que aprendi o belo estilo poético que me deu louvor. Eu não subi o monte por causa dessa fera. Ela me faz tremer os pulsos. Ajuda-me, sábio famoso! Ajuda-me a enfrentá-la!
- A ti convém seguir outra viagem - respondeu o poeta, ao me ver lacrimejando - pois essa fera, essa loba, é a mais feroz e insaciável de todas. Ela só partirá quando finalmente vier o Lebreiro que para ela será a dura morte. Ele não se alimentará nem de dinheiro, nem de terras; só a sua sabedoria, amor e virtude poderão nutri-lo. Ele virá para salvar a tua Itália caída. Ele irá caçar essa fera em todas as cidades até encontrá-la, quando então a matará e a conduzirá de volta ao inferno, de onde a Inveja, primeiro a trouxe para este mundo.
Depois, me fez uma proposta:
- Eu acho melhor, para teu bem, que me sigas. Eu serei o teu guia. Te levarei para um lugar eterno onde verás condenados gritando, em vão, por uma segunda chance. Depois verás outros que sofrem contentes no fogo, pois têm esperança de um dia seguir ao encontro daquela gente abençoada. E depois, se quiseres subir ao céu, lá terás alma mais digna do que eu, pois o imperador daquele reino me nega a entrada, pois à sua lei eu fui rebelde.
- Poeta - respondi -, eu te imploro, em nome desse Deus que não conheceste, que me ajudes a fugir deste mal ou de outro pior. Eu te seguirei a esses lugares que descreveste. Que eu possa ver a porta de São Pedro e os tristes sofredores dos quais falaste!
Ele então moveu-se, e eu o acompanhei

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