quinta-feira, 22 de setembro de 2011

o inferno

Pergunta – O Inferno de fogo e chamas, do qual nos fala a religião católica,

nos tempos atuais já não podemos admiti-lo mais que uma superstição
religiosa, de acordo com os homens de ciência. É isto certo, Mestre?
Venerável Mestre – Distinto cavalheiro! Permita-me informar-lhe que
qualquer inferno do tipo religioso é exclusivamente simbólico.
Não é demais, nestes instantes, recordar o inferno de gelo dos nórdicos, o
inferno chinês com todos os seus suplícios amarelos, o inferno budista, o
inferno maometano ou a ilha infernal dos antigos povoadores do país de
Maralpleicie, cuja civilização hoje já se oculta entre as areias do deserto de
Gobi.
Inquestionavelmente, estes variados infernos tradicionais alegorizam, de
forma enfática, o reino mineral submerso.
Recorde o Senhor, bom amigo, que Dante atravessou seu "Infernus" entre as
entranhas vivas da Terra. Leia-se a Divina Comédia.
P. – Mestre, o senhor nos fala do mundo mineral submerso; no entanto, todas
as perfurações das companhias mineradoras e petroleiras e de outra índole,
que foram praticadas sobre a crosta terrestre, não mostraram sinais de um
mundo vivo que pudesse estar sequer na primeira camada interior da Terra.
Onde se encontra esse mundo mineral submerso?
V.M. – Grande amigo! Permita-me informar-lhe que o mundo tridimensional
de Euclides não é tudo.
Ostensivelmente, acima deste mundo de três dimensões (comprimento,
largura e altura) existem várias dimensões superiores. Obviamente, de acordo
com a lei dos contrastes, sob esta zona tridimensional existem também várias
infradimensões de tipo mineral submerso.
É indubitável que os citados infernos de tipo dantesco correspondem a estas
infradimensões.
P. – Perdoa-me, Mestre, que insista, porém, em todos os livros que por
minha inquietude esquadrinhei, não recordo de nenhum escrito ou documento
que nos fale dessas infradimensões, quanto menos nos indique como
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podemos descobri-las. Portanto, pergunto-lhe, qual é o objetivo de falar de
infradimensões que, até onde pude comprovar, nenhum ser humano viu ou
apalpou?
V.M. – Distinto cavalheiro! Sua pergunta me parece interessante. Porém,
convém esclarecer que o Movimento Gnóstico Cristão Universal tem
sistemas, métodos de experimentação direta, mediante os quais podemos
verificar a crua realidade das infradimensões da natureza e do cosmos.
Nós podemos e devemos situar os nove círculos dantescos, precisamente,
debaixo da epiderme da Terra, no interior do organismo planetário em que
vivemos.
Obviamente, os nove círculos citados correspondem inteligentemente a nove
infradimensões naturais.
Resulta palmário e manifesto que os nove céus da Divina Comédia de Dante
são nove dimensões de tipo superior, intimamente correlacionados com as
nove de tipo inferior.
Quem estudou alguma vez a Divina Comédia do ponto de vista esotérico não
poderá ignorar a realidade dos mundos internos.
P. – Mestre, que diferença básica existe entre os infernos do catolicismo e os
que considera o Movimento Gnóstico?
V.M. – Bom amigo! A diferença entre os infernos simbólicos de uma e outra
religião é a que pode haver entre bandeira e bandeira de diferentes nações.
Cada país alegoriza sua existência com um pavilhão nacional; assim também,
cada religião simboliza os mundos infernos com alguma alegoria de tipo
infernal.
Porém, infernos cristãos ou chineses, ou budistas, etc., etc., todos eles, no
fundo, não são senão diferentes emblemas que correspondem ao cru
realismo dos infernos atômicos da natureza e do cosmos.
P. – Por que as pessoas têm pesadelos, como dizemos vulgarmente? Que
acontece nesse caso? Será que viajam a esses mundos infradimensionais?
V.M. – Com o maior gosto darei resposta a esta interessante pergunta do
auditório. Quero, senhores e senhoras, que compreendam o que são,
certamente, os pesadelos.
Sim Há Inferno, Sim Há Diabo, Sim Há Carma - V.M. Samael Aun Weor
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A anatomia oculta ensina que, no baixo ventre, existem sete portas infernais,
sete chacras inumanos, ou vórtices negativos de forças sinistras.
Pode dar-se o caso de que alguém, indigestado por alguma comida pesada,
ponha em atividade, mediante a desordem, tais chacras infernais. Então se
abrem as portas abismais, como o ensina claramente a religião de Maomé, e
o sujeito penetra, nessa noite, nos mundos infernos.
Isto é possível mediante o desdobramento da personalidade. Não é difícil
para o ego penetrar na morada de Plutão.
Os monstros dos pesadelos existem realmente; provêm originalmente dos
tempos arcaicos; habitam normalmente nas infradimensões do mundo mineral
submerso.
P. – Quer isto dizer, Venerável Mestre, que não somente os que morreram
sem ter salvo sua alma entram no Inferno?
V.M. – Resulta patente, claro e manifesto que os vivos também penetram nos
mundos infernos, como o estão demonstrando os pesadelos.
Ostensivelmente, o infraconsciente humano é de natureza infernal; poderia
dizer-se, com inteira claridade meridiana, que nos infernos atômicos do
homem estão todos os horrores abismais. Com outras palavras enfatizamos o
seguinte: Os abismos infernais de maneira alguma se acham divorciados de
nosso próprio subconsciente e infraconsciente. Agora compreenderá o
auditório o motivo pelo qual é tão fácil penetrar, a qualquer hora, dentro dos
nove círculos dantescos.
P. Querido Mestre, realmente não compreendo por que primeiro nos diz que
os mundos internos se acham nas infradimensões da Terra e, depois,
menciona que esses abismos atômicos se encontram dentro de nós mesmos.
Quisera ser tão amável de me esclarecer isto?
V.M. – Sua pergunta me parece magnífica. Quem quiser descobrir as leis da
natureza deve encontrá-las dentro de si mesmo. Quem, dentro de si mesmo
não encontre o que busca, não o encontrará fora de si mesmo, jamais. Os
antigos disseram: "Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo
e os deuses". Tudo o que existe na natureza e no cosmos devemos
encontrá-lo em nosso interior. Assim, pois, os nove círculos dantescos
infernais estão dentro de nós mesmos, aqui e agora.
P. – Mestre, eu tive pesadelos onde vi um mundo de obscuridade e muitos
monstros. Será que entrei nesses mundos infradimensionais ou infernais?
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V.M. – Sua pergunta resulta bastante importante. É necessário que o
auditório compreenda que essas infradimensões estão no fundo submerso de
nossa natureza. Obviamente, repito, com os pesadelos se abrem as sete
portas dos infernos atômicos do baixo ventre e, então, descemos aos mundos
submersos.
Raras são as pessoas que em sua vida não fizeram alguma visita ao reino de
Plutão. Entretanto, é bom, senhores e senhoras, que, ao estudar esta
questão, pensemos no cru realismo natural desses mundos que estão
colocados nas infradimensões do planeta em que vivemos. Pensemos, por
um instante, em mundos que se penetram e compenetram sem se
confundirem, em regiões densamente povoadas, etc., etc. De modo algum
devemos tomar as alegorias religiosas à letra morta; busquemos o espírito
que vivifica e que dá vida. Os diversos infernos das religiões alegorizam
realidades cruamente naturais. Não devemos confundir os símbolos com os
fenômenos cósmicos em si mesmos.
P. – Mestre, quisera que me explicasse o senhor um pouco mais sobre esses
mundos infernos, já que, dentro desses pesadelos que tive, nunca vi luz, nem
rostos formosos. Poderia dizer-me por quê?
V.M. – Com o maior gosto darei resposta a esta pergunta. As trevas infernais
são outro modo da luz; correspondem, certamente, à gama do infravermelho.
Os habitantes de tais domínios subterrâneos percebem as diversas variantes
do colorido, correspondente a essa zona do espectro solar.
Quero que os senhores, meus amigos, compreendam que todas as cores que
existem no ultravioleta se encontram também no infravermelho.
Que existe um amarelo no infravermelho, isto é algo muito notável; porém, no
infravermelho, o amarelo existe também, de forma diferente, e assim também
sucede com as demais cores. Assim, pois, repito, de forma enfática, o
seguinte: As trevas são outra forma de luz.
Inquestionavelmente, os habitantes do reino mineral submerso se acham
demasiado afastados do Sagrado Sol Absoluto e, por isso, resultam,
certamente, terrivelmente malignos e espantosamente feios.
P. – Eu concebo, Mestre, que, nos mundos submersos da Terra, exista toda
classe de monstros e que aí habitem, porém, como é possível que dentro de
mim mesmo, que sou tão pequeno em comparação com o planeta, possa
encontrar precisamente esses mundos?
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V.M. – Bom amigo! Permita-me dizer-lhe que qualquer molécula de amido ou
de ferro, cobre, etc., etc., é todo um sistema solar em miniatura. Um discípulo
de Marconi imaginava precisamente o nosso sistema solar como uma grande
molécula cósmica.
Quem não descobre, numa simples molécula, o movimento dos planetas ao
redor do Sol está, certamente, muito longe de compreender astronomia.
Nada se encontra desligado neste universo. Em verdade, não existe efeito
sem causa, nem causa sem efeito. Assim, também, dentro de cada um de
nós há forças e átomos que se correlacionam ora com as esferas celestes,
ora com as esferas infernais.
É bom saber que, em nosso organismo, existem centros psíquicos que nos
põem em relação com as nove dimensões superiores do cosmos ou com as
nove dimensões inferiores.
Já disse claramente que este mundo tridimensional em que vivemos não é
tudo; pois, acima, temos as dimensões superiores e, abaixo, as inferiores.
Inquestionavelmente, todas estas dimensões, celestiais ou infernais, estão
relacionadas com as distintas zonas de nossa própria psique e por isso é que,
se não as descobrimos dentro de nós mesmos, não as descobriremos em
nenhuma parte.
P. – Mestre, o senhor menciona amiúde a palavra abismos atômico. Por que
atômicos?
V.M. – Esta pergunta me parece extraordinária e com o maior gosto vou dar
resposta. Antes de tudo, quero que o senhor saiba que todo átomo é um trio
de matéria, energia e consciência.
Pensemos, por um momento, nas inteligências atômicas; obviamente existem
as solares e as lunares. Também existem inteligências malignas atômicas,
terrivelmente perversas.
Os átomos do Inimigo Secreto, dentro de nosso organismo, estão controlado
por certo átomo maligno, situado exatamente no osso coccígeo.
Este tipo de átomos causa enfermidades e origina, em nós, distintas
manifestações de perversidade.
Ampliemos um pouco mais esta informação e pensemos, por um momento,
em todos os átomos malignos do planeta Terra. Obviamente os mais
pesados, os mais demoníacos habitam na morada de Plutão, quer dizer, nas
infradimensões do mundo em que vivemos. Agora compreenderá o senhor o
Sim Há Inferno, Sim Há Diabo, Sim Há Carma - V.M. Samael Aun Weor
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motivo pela qual falamos de abismos atômicos, de infernos atômicos, etc.
P. – Creio que a maioria de nós, quando pensamos em termos de átomos,
imaginamos algo infinitamente pequeno. Logo, então, quando nos fala de que
todos os sóis e planetas do cosmos constituem um átomo, transtorna um
pouco nosso processo raciocinativo. É isto congruente, Mestre?
V.M. – Distinto cavalheiro e amigo! Jamais me ocorreu pensar em reduzir
todo o universo ou os universos a um simples átomo. Permita-me dizer-lhe
que os mundos, sóis, satélites, etc., são constituídos por somas de átomos e
isto é diferente, verdade? Se em alguma parte de minha oratória comparei o
sistema solar com uma grande molécula, eu o fiz baseado na lei das
analogias filosóficas; jamais quis reduzir tal sistema a um simples átomo.
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Dante Alighieri (1265-1321)

Dante Alighieri nasceu em Florença em 1265 de uma família da baixa nobreza. Sua mãe morreu quando era ainda criança e seu pai, quando tinha dezoito anos.
Pouco se sabe sobre a vida de Dante e a maior parte das informações sobre sua educação, sua família e suas opiniões são geralmente meras suposições. As especulações sobre a sua vida deram origem à vários mitos que foram propagados por seus primeiros biógrafos, dificultando o trabalho de separar o fato da ficção. Pode-se encontrar muita informação em suas obras, como na Vida Nova (La Vita Nuova) e na Divina Comédia (Commedia).
Na Vida Nova Dante fala de seu amor platônico por Beatriz (provavelmente Beatrice Portinari), que encontrara pela primeira vez quando ambos tinham 9 anos e que só voltaria a ver 9 anos mais tarde, em 1283. Nos tempos de Dante, o casamento era motivado principalmente por alianças políticas entre famílias. Desde os 12 anos, Dante já sabia que deveria se casar com uma moça da família Donati. A própria Beatriz, casou-se em 1287 com o banqueiro Simone dei Bardi e isto, aparentemente, não mudou a forma como Dante encarava o seu amor por ela. Provavelmente em 1285, Dante casou-se com Gemma Donati com quem teve pelo menos três filhos. Uma filha de Dante tornou-se freira e assumiu o nome de Beatrice.
Em 1290, Beatriz morreu repentinamente deixando Dante inconsolável. Esse acontecimento teria provocado uma mudança radical na sua vida o levando a iniciar estudos intensivos das obras filosóficas de Aristóteles e a dedicar-se à arte poética.
Dante foi fortemente influenciado pelos trabalhos de retórica e filosofia de Brunetto Latini - um famoso poeta que escrevia em italiano (e não em latim, como era comum entre os nobres), tendo também se beneficiado da amizade com o poeta Guido Cavalcanti - ambos mencionados na sua obra. Pouco se sabe sobre sua educação. Segundo alguns biógrafos, é possível que tenha estudado na universidade de Bologna, onde provavelmente esteve em 1285.
A Itália no tempo de Dante estava dividida entre o poder do papa e o poder do Sagrado Império Romano. O norte era predominantemente alinhado com o imperador (que podia ser alemão ou italiano) e o centro, com o papa (veja mapa).
A Itália, porém, não era um império coeso. Não havia um único centro de poder. Havia vários, espalhados pelas cidades, que funcionavam como estados autônomos e seguiam leis e costumes próprios. Nas cidades era comum haver disputas de poder entre grupos opositores, o que freqüentemente levava a sangrentas guerras civis. Florença era, na época, uma das mais importantes cidades da Europa, igual em tamanho e importância a Paris, com uma população de mais de 100 mil habitantes e interesses financeiros e comerciais que incluíam todo o continente.
A política nas cidades representava os interesses de famílias. A afiliação era hereditária. A família de Dante pertencia a uma facção política conhecida como os guelfos (Guelfi) - representados pela baixa nobreza e pelo clero - que fazia oposição a um partido conhecido como os guibelinos (Ghibellini) - representantes da alta nobreza e do poder imperial. Os nomes dos dois grupos eram originários de partidos alemães, porém os ideais políticos eram um mero pretexto para abrigar famílias rivais. Florença se dividiu em guelfos e guibelinos quando um jovem da família Buondelmonti não cumpriu uma promessa de casamento com uma moça da família Amadei e foi assassinado. As famílias da cidade tomaram partido por um lado ou por outro e Florença se dividiu em guelfos e guibelinos.
Dante nasceu em uma Florença governada pelos guibelinos, que haviam tomado a cidade dos guelfos na sangrenta batalha conhecida como Montaperti (monte da morte), em 1260. Em 1289, Dante lutou com o exército guelfo de Florença na batalha de Campaldino, onde os florentinos venceram os exércitos guibelinos de Pisa e Arezzo, e recuperaram o poder sobre a cidade.
Na época de Dante, o governo da cidade era exercido por representantes eleitos de corporações de operários, artesãos, profissionais, etc. chamadas de guildas. Dante se inscreveu na guilda dos médicos e farmacêuticos e disputou as eleições em Florença, tendo sido eleito em 1300 como um dos seis priores (presidentes) do Conselho da Cidade.
A maior parte do poder em Florença estava então nas mãos dos guelfos - opositores do poder imperial. Mas o partido em pouco tempo se dividiu em duas facções. A causa foi novamente uma rixa entre famílias, desta vez, importada da cidade de Pistóia. Os Cancellieri era uma grande família de Pistóia, descendentes de um mesmo pai que tivera, durante sua vida, duas esposas. A família Cancellieri se dividiu quando um membro desajustado da família assassinou o tio e cortou a mão do primo. Os descendentes da primeira esposa do Cancellieri, que se chamava Bianca, decidiram se apelidar de Bianchi. Os rivais, que defendiam o jovem assassino, se apelidaram de Neri (negros) em espírito de oposição. A briga tomou conta de Pistóia e a cidade acabou sofrendo intervenção de Florença, que levou presos os líderes dos grupos rivais. Mas as famílias de Florença não demoraram a tomar partido e, por causa de uma briga de rua, a divisão se espalhou pela cidade, dividindo os guelfos em negros e brancos.
Depois de criados, os partidos assumiram posições políticas. Os guelfos brancos, moderados, respeitavam o papado mas se opunham à sua interferência na política da cidade. Já os guelfos negros, mais radicais, defendiam o apoio do papa contra as ambições do imperador, que era apoiado pelos guibelinos.
Os priores de Florença (entre eles Dante) viviam em constante atrito com a igreja de Roma que, sob o governo do papa Bonifácio VIII, pretendia colocar toda a Itália sob a ditadura da igreja. Em um dos encontros com o papa, onde os priores foram reclamar da interferência da igreja sobre o governo de Florença, Bonifácio respondeu ameaçando excomungá-los. A briga entre os Neri e Bianchi tornou-se cada vez mais intensa durante o mandato de Dante até que ele teve que ordenar o exílio dos líderes de ambos os lados para preservar a paz na cidade. Dante foi extremamente imparcial, incluindo, entre os exilados, um dos seus melhores amigos (Guido Cavalcanti) e um parente de sua esposa (da família Donati).
No meio da confusão entre os guelfos de Florença, o papa decidiu enviar Carlos de Valois (irmão do rei Felipe da França) como pacificador para acabar com a briga entre as facções. A suposta ajuda, porém, revelou ser um golpe dos Neri para tomar o poder. Eles ocuparam o governo de Florença e condenaram vários Bianchi ao exílio e à morte. Dante foi culpado de várias acusações, entre elas corrupção, improbidade administrativa e oposição ao papa. Foi banido da cidade por dois anos e condenado a pagar uma alta multa. Caso não pagasse, seria condenado à morte se algum dia retornasse a Florença.
Dante no Exílio. Anônimo. Archivo Iconográfico S. A., Itália.
Imagem pertencente à Corbis Image Collections.
No exílio, Dante se aproximou mais da causa dos guibelinos (o império), à medida em que a tirania do papa aumentava. Ele passou o seu exílio em Forlì, Verona, Arezzo, Veneza, Lucca, Pádua (e também provavelmente em Paris e Bologna). Em 1315 voltou a Verona e dois anos depois fixou-se em Ravenna. Suas esperanças de voltar a Florença retornaram depois que o sucessor de Bonifácio VIII chamou à Itália o imperador Henrique VII. O objetivo de Henrique VII era reunir a Itália sob seu reinado. Porém a traição do papa, que ainda alimentava a idéia de ter um império próprio, seguida por uma nova vitória dos Neri e a morte de Henrique VII três anos depois enterraram de vez as suas esperanças.
Na obra La Vita Nuova, seu primeiro trabalho literário de importância, iniciado pouco depois da morte de Beatriz, Dante narra a história do seu amor por Beatriz na forma de sonetos e canções complementadas por comentários em prosa. Durante o seu exílio Dante escreveu duas obras importantes em latim: De Vulgari Eloquentia, onde defende a língua italiana, e Convivio, incompleto, onde pretendia resumir todo o conhecimento da época em 15 livros. Apenas os quatro primeiros foram concluídos. Escreveu também um tratado: De Monarchia, onde defendia a total separação entre a Igreja e o Estado. A Commedia consumiu 14 anos e durou até a sua morte, em 1321, ocorrida pouco após a conclusão do Paraíso. Cinco anos antes de sua morte, foi convidado pelo governo de Florença a retornar à cidade. Mas os termos impostos eram humilhantes, semelhantes àqueles reservados à criminosos perdoados e Dante rejeitou o convite, respondendo que só retornaria se recebesse a honra e dignidade que merecia. Continuou em Ravenna, onde morreu e foi sepultado com honras.
Helder da Rocha
Fontes: [Encarta 97], [Larousse 98], [Mauro 98], [Musa 95], [Cambridge].
Nota: Muitas fontes apresentaram informações contraditórias sobre a vida de Dante, principalmente em relação a datas e sobre sua família. Neste texto, mantive as informações das fontes que eu considerei mais confiáveis. Outros textos podem, portanto, apresentar versões diferentes.

A Divina Comédia
Poema épico de Dante Alighieri
ADivina Comédia é a obra prima de Dante Alighieri, que a iniciou provavelmente por volta de 1307, concluindo-a pouco antes de sua morte (1321). Escrita em italiano, a obra é um poema narrativo rigorosamente simétrico e planejado que narra uma odisséia pelo Inferno, Purgatório e Paraíso, descrevendo cada etapa da viagem com detalhes quase visuais. Dante, o personagem da história, é guiado pelo inferno e purgatório pelo poeta romano Virgílio, e no céu por Beatriz, musa em várias de suas obras.
O poema possui uma impressionante simetria matemática baseada no número três. É escrito utilizando uma técnica original conhecida como terza rima, onde as estrofes de dez sílabas, com três linhas cada, rimam da forma ABA, BCB, CDC, DED, EFE, etc. Ou seja, a linha central de cada terceto controla as duas linhas marginais do terceto seguinte. Veja um exemplo (primeiras estrofes do Inferno):
1
Nel mezzo del cammin di nostra vita
A
2
mi ritrovai per una selva oscura
B
3
ché la diritta via era smarrita.
A



4
Ahi quanto a dir qual era è cosa dura
B
5
esta selva selvaggia e aspra e forte
C
6
che nel pensier rinova la paura!
B



7
Tant'è amara che poco è più morte;
C
8
ma per trattar del ben ch'i' vi trovai,
D
9
dirò de l'altre cose ch'i' v'ho scorte.
C



10
Io non so ben ridir com'i' v'intrai,
D
11
tant'era pien di sonno a quel punto
E
12
che la verace via abbandonai.
D
Ao fazer com que cada terceto antecipe o som que irá ecoar duas vezes no terceto seguinte, a terza rima dá uma impressão de movimento ao poema. É como se ele iniciasse um processo que não poderia mais parar. Através do desenho abaixo pode-se ter uma visão mais clara do efeito dinâmico da poesia:
Diagrama representando o esquema poético da Divina Comédia (terza rima). As letras representam o som das últimas sílabas de cada verso das estrofes de três sílabas (tercetos). Ilustração de Douglas Hofstadter retirada do seu livro Le Ton Beau de Marot.
Os três livros que formam a Divina Comédia são divididos em 33 cantos cada, com aproximadamente 40 a 50 tercetos, que terminam com um verso isolado no final. O Inferno possui um canto a mais que serve de introdução a todo o poema. No total são 100 cantos. Os lugares descritos por cada livro (o inferno, o purgatório e o paraíso) são divididos em nove círculos cada, formando no total 27 (3 vezes 3 vezes 3) níveis. Os três livros rimam no último verso, pois terminam com a mesma palavra: stelle, que significa 'estrelas'.
Dante chamou a sua obra de Comédia. O adjetivo "Divina" foi acrescido pela primeira vez em uma edição de 1555.
A Divina Comédia excerceu grande influência em poetas, músicos, pintores, cineastas e outros artistas nos últimos 700 anos. Desenhistas e pintores como Gustave Doré, Sandro Botticelli, Salvador Dali, Michelangelo e William Blake estão entre os ilustradores de sua obra. Os compositores Robert Schumann e Gioacchino Rossini traduziram partes de seu poema em música e o compositor húngaro Franz Liszt usou a Comédia como tema de um de seus poemas sinfônicos. O escultor Auguste Rodin usou a Comédia como inspiração para suas principais obras, entre elas, O Pensador, que representa o próprio Dante, O Beijo, inspirada no drama de Paolo e Francesca (Inferno, Canto V) e Ugolino e seus filhos, que retrata a tragédia do Conde Ugolino narrada no Canto XXXIII. Todas compõem sua obra-prima Porta do Inferno que representa nada menos que o Inferno de Dante.
"Dante e seu Poema". Pintura de Domenico di Michelino (1460).
Imagem pertencente à Corbis Image Collections.
Síntese: Inferno
Quando Dante se encontra no meio da vida, ele se vê perdido em uma floresta escura, e sua vida havia deixado de seguir o caminho certo. Ao tentar escapar da selva, ele encontra uma montanha que pode ser a sua salvação, mas é logo impedido de subir por três feras: um leopardo, um leão e uma loba. Prestes a desistir e voltar para a selva, Dante é surpreendido pelo espírito de Virgílio - poeta da antigüidade que ele admira - disposto a guiá-lo por um caminho alternativo. Virgílio foi chamado por Beatriz, paixão da infância de Dante, que o viu em apuros e decidiu ajudá-lo. Ela desceu do céu e foi buscar Virgílio no Limbo. O caminho proposto por Virgílio consiste em fazer uma viagem pelo centro da terra. Iniciando nos portais do inferno, atravessariam o mundo subterrâneo até chegar aos pés do monte do purgatório. Dali, Virgílio guiaria Dante até as portas do céu. Dante então decide seguir Virgílio que o guia e protege por toda a longa jornada através dos nove círculos do inferno, mostrando-lhe onde são expurgados os diferentes pecados, o sofrimento dos condenados, os rios infernais, suas cidades, monstros e demônios, até chegar ao centro da terra, onde vive Lúcifer. Passando por Lúcifer, conseguem escapar do inferno por um caminho subterrâneo que leva ao outro lado da terra, e assim voltar a ver o céu e as estrelas.
Síntese: Purgatório
Saindo do inferno, Dante e Virgílio se vêem diante de uma altíssima montanha: o Purgatório. A montanha é tão alta que ultrapassa a esfera do ar e penetra na esfera do fogo chegando a alcançar o céu. Na base da montanha encontram o ante-purgatório, onde aqueles que se arrependeram tardiamente dos seus pecados aguardam a oportunidade para entrar no purgatório propriamente dito. Depois de passar pelos dois níveis do ante-purgatório, os poetas atravessam um portal e iniciam sua nova odisséia, desta vez subindo cada vez mais. Passam por sete terraços, cada um mais alto que o outro, onde são expurgados cada um dos sete pecados capitais. No último círculo do purgatório, Dante se despede de Virgílio e segue acompanhado por um anjo que o leva através de um fogo que separa o purgatório do paraíso terrestre. Finalmente, às margens do rio Letes, Dante encontra Beatriz e se purifica, banhando-se nas águas do rio para que possa prosseguir viagem e subir às estrelas.
Síntese: Paraíso
O Paraíso de Dante é dividido em duas partes: uma material e uma espiritual (onde não há matéria). A parte material segue o modelo cosmológico de Ptolomeu e consiste de nove círculos formados pelos sete planetas (Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno), o céu das estrelas fixas e o Primum Mobile - o céu cristalino e último círculo da matéria. Ainda no paraíso terrestre, Beatriz olha fixamente para o sol e Dante a acompanha até que ambos começam a elevar-se, "transumanando". Guiado por Beatriz, Dante passa pelos vários céus do paraíso e encontra personagens como São Tomás de Aquino e o imperador Justiniano. Chegando ao céu de estrelas fixas, ele é interrogado pelos santos sobre suas posições filosóficas e religiosas. Depois do interrogatório, recebe permissão para prosseguir. No céu cristalino Dante adquire uma nova capacidade visual, e passa a ter visão para compreender o mundo espiritual, onde ele encontra nove círculos angélicos, concêntricos, que giram em volta de Deus. Lá, ao receber a visão da Rosa Mística, se separa de Beatriz e tem a oportunidade de sentir o amor divino que emana diretamente de Deus, "o amor que move o Sol e as outras estrelas".
Helder da Rocha
Fontes: Enciclopédias [Encarta 97] e [Larousse ]. Traduções da Divina Comédia de Dante [Mauro 98], [Musa 95].
Le Ton Beau de Marot - In praise of the music of language de Douglas Hofstadter - físico, escritor, tradutor e especialista em inteligência artificial, vencedor do prêmio Pulitzer pelo livro Gödel, Escher, Bach - An Eternal Golden Braid. Em um dos capítulos do seu livro dedicado à arte da tradução, Hofstadter comenta sobre a poesia de Dante e faz uma análise crítica de várias traduções de sua obra em língua inglesa.

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